terça-feira, 19 de outubro de 2010

Stanley Kubrick “Laranja Mecânica”



Prepare-se!
Tirem as crianças da sala! O texto hoje é sobre um filme para maiores de dezoito anos: O incrível “Laranja Mecânica”, do diretor vanguardista Stanley Kubrick. Embora não tenha muita coisa de pornográfico – é bom deixar claro – esse filme é ultra-violento, o que explica sua censura. Nas palavras do próprio protagonista Alex, um verdadeiro “horrorshow”. A responsabilidade de ver o filme (e não ter um ataque cardíaco, como quase aconteceu comigo) é sua.
Justamente por sua violência, “Laranja Mecânica” foi uma obra que nem todo mundo entendeu. No Reino Unido, seu país de origem, foi rejeitado pelo público. Irritado, Kubrick resolveu tirar seu próprio filme de cartaz. “Laranja...” só foi posto lá de volta depois de sua morte.

Como bom (ou não) resenhista que sou, começarei pelos aspectos positivos. Quer dizer, não que tenha visto aspectos negativos, como não vi. Algo a ser realmente destacado nesse filme é a atuação de Malcolm McDowell, na pele do jovem Alexander DeLarger. O anti-herói, um marginal de
classe média, que rouba, estupra e mata, deixa clara a genialidade do argumentador Anthony Burgess e o já citado Kubrick, se olharmos com atenção para as grandes críticas que estão por trás dessa obra.
Na verdade, não só este personagem, como também seus pais, sua gangue, e seu psicólogo configuram o quadro que precisa ser compreendido. Quer dizer, seus fatores, suas causas, a pergunta que fica na cabeça de muita gente. Por que um jovem de classe média se tornaria um marginal? Pior do que isso, por que ele se tornaria um marginal com outros jovens de classe média? Hoje, pode parecer corriqueiro, mas há algum tempo atrás, soaria muito bizarro. Será que seus pais não lhe dão o carinho necessário? Lhe falta alguma coisa? Muita gente diria que, na verdade, lhe faltam limites. Eu diria que isso se deve, em grande parte, à


Alex e seus "druguinhos".
violência que se tornou nossa sociedade.
Largando um pouco a análise social que envolve o filme, e voltando para a obra em si, contarei um pouco do enredo, tendo cuidado pra não deixar seu desenrolar à mostra. Alex e seus “drugues” (uma gíria inventada para “amigos”) são uma gangue que saem à noite para plantar o mal. Em um certo ponto, por exemplo, eles espancam um velho mendigo que lhes pedem alguns trocados. Alex também se mostra (assim como eu) um verdadeiro fascinado pela obra de Ludwig Van Beethoven, sendo a nona sua sinfonia preferida.
Agora passando para a parte da fotografia, diria a vocês que nunca vi um futurismo setentista que se aproximou tanto com o resultado que temos hoje. O visual psicodélico do filme deixa qualquer um com os olhos vidrados na tela. Quer dizer, não é só psicodélico. É extremamente rico, e assim como o resto do filme, tem um conteúdo expressivo. Desde a “obra de arte” da dona do Spa, até as máscaras e o figurino usados pela gangue de Alex, é tudo indescritível. E a trilha sonora não fica atrás. Além de ser regada de muito do nosso velho Ludwig Van, trás como tema principal uma intrigante canção instrumental.
“Laranja...” é um filme que trás muitas críticas escondidas. Não estou brincando, é muita coisa

"Got milk?"
mesmo! Das relevantes que encontrei, também critica a hipocrisia e o egoísmo próprios do ser humano. Mas não pára por aí. “Laranja...” tem uma grande crítica ao método do condicionamento clássico. Quer dizer pavlovianismo, que está historicamente ligado ao behaviorismo.
Isso se desencadeia com a aparição no filme do “tratamento Ludovico”. No caso, um tratamento onde a pessoa fica sendo condicionada a não ter opinião própria: Se você, por exemplo, vê imagens de biscoitos de maisena passando pelos reflexos causados por esse tratamento, enjoará toda a vez que ver um biscoito desse tipo.

Finalizando minha postagem hoje, digo a vocês que nunca vi um filme que combina tão bem surrealismo e psicodelia com bom conteúdo e críticas ácidas. “A Clockwork Orange” é um filme que mudou não só o meu jeito de ver as coisas, como também de toda a equipe do Veliko Valovi. Tenho certeza de que vai mudar o seu também.

5 comentários:

  1. Parabéns ao Ramiro, que se superou nessa resenha completa e objetiva. Só não ficou muito claro o processo do "tratamento Ludovico", mas tudo bem, que ver o filme vai entender. Então, legal. Outra coisa, prestem atenção a cena da loja de discos, Floydianos de plantão! Tem algo a ver com uma vaca!

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  2. Hmm, valeu então.
    Copiando o comenatário do Sr. Pratagy, vou fazer uma observação para os beatlemaníacos de plantão: Prestem atenção na cena da loja de discos! Tem algo a ver com uma louca e misteriosa viagem!

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  3. Já que é pra prestar atenção... Odisseiros do espaço de plantão, atentem-se à cena da loja de discos!
    Cara, esse filme é tão sensacional que confesso que sempre tive medo de resenhá-lo aqui. Por isso deixei essa tarefa pro Ramiro, que explorou muito bem o conteúdo apesar de que poderia fazê-lo melhor.
    Bom, não perde tempo, vai logo assistir isso, rapaz!
    "This is kind of... horrorshow!"

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  4. Pra quem realmente gosta de filme, de buscar as coisas que não aparecem de forma explícita, Laranja Mecânica é sensacional.

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  5. Um dos melhores filmes que já vi, sem dúvidas.

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