terça-feira, 26 de outubro de 2010

Art Spiegelman "Maus"

São poucas as obras que conquistam o leitor com tão pouco. "Tão pouco", entre aspas, porque apesar da linguagem verbal ser simples, e as ilustrações serem mais ainda, Artie usa e abusa dessa simplicidade para detalhar como nunca antes a jornada dos judeus ao campo de extermínio Auschwitz. 
Provavelmente você deve estar acostumado com toda aquela aura de "épico" quando se trata de Segunda Guerra Mundial, onde o Hitler é um grande demônio ao modo de Sauron (Senhor dos Anéis) e os americanos são verdadeiros heróis que dão suas vidas ao bem do mundo (haha, vamos esquecer que a Rússia teve grande importância na vitória dos Aliados). Enquanto isso, os Judeus morrem indiferentemente e são tratados como um amontoado de carne que só faz esperar pra tomar um banho em chuveiros que derramam Zyklon B. Em Maus, esqueça toda essa besteira, e tome partido de uma visão humana e realista do que realmente foi esse massacre etnocida.
Primeiro que aqui você não vai encontrar seres humanos, apenas animais representando cada gênero da guerra: gatos para nazistas, ratos para judeus, cachorros para os americanos, sapos para os franceses, peixes para os ingleses, e assim vai. Mas não se engane que esse recurso visual serve à fins caricatos. Os personagens são absurdamente humanos. Os diálogos são delicados, eu pelo menos não encontrei nenhuma passagem onde algum personagem falou apenas para "engrandecer" a história, tudo lá é absolutamente verídico e obedece as linhas da vida real. E é incrível como as linhas da vida real se encaixam facilmente nas linhas da arte sequencial. É coisa de louco mesmo.
O enredo conta a jornada de Vladek, um judeu que é capturado pelos nazistas e faz de tudo pra sobreviver. Na verdade o quadrinho conta duas histórias, a de Art Spiegelman entrevistando seu pai (Vladek) e confeccionando o quadrinho, e a história de Vladek na época da segunda guerra. O que deixa muito interessante o livro, podendo citar uma passagem onde Artie faz de quadrinhos seu bloqueio criativo para fazer mais quadrinhos, devido a fama que sua obra obteve e as propostas de mais dinheiro.
Se você é um entusiasta da Segunda Guerra, leia, e lhe dou a certeza de esquecer toda a baboseira da qual você já leu/viu/jogou antes. Se você não se interessa pelo assunto, mesmo assim leia, e contemple uma verdadeira aula de como contar histórias, seja em quadrinhos, ou em qualquer outro meio de comunicação. Mas não deixe passar a oportunidade de ler um dos melhores quadrinhos de todos tempos. 
Obs.: note o poder do preto & branco, hehe.

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