quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Para comemorar a internet nova

E aí queridos, tô de volta escrevendo posts sobre discos e tal. Sei que essa nem é mais a atração principal do blog (se é que existe algum atrativo pra visitar essa bagaça) mas achei que botar uns links de download dos álbuns que ando ouvindo seria uma boa. Aliás, minha internet não é mais aquela ruinzinha, e para comemorar esses 1mb tô baixando coisa adoidado. E claro, ouvindo tudo né, e mostrando pra vocês qual é o papo do rock and roll. Alguns vão ser meio óbvios, tipo, grandes álbuns superfamosos que eu só estou conhecendo agora, então não fiquem chateados se vocês já conhecerem a maioria.


Loki? (Arnaldo Baptista) - Como todo mundo que curte boa música brasileira, gosto muito de Mutantes e já ouvi os discos deles várias e várias vezes, e me interessei pela carreira solo dos integrantes. Comecei logo por essa obra-prima de Arnaldo Baptista, "Loki?". Meio que uma ópera-rock, álbum conceitual, drama poesia lunática. Meio que uma Balada do Louco de 30 minutos.


Transformer (Lou Reed) - Mesma coisa com o Arnaldo. Passei as férias ouvindo Velvet (com o meu querido primo Rafael), e fiquei fascinado pelo seu frontman Lou Reed. E Transformer é uma surpresa, justamente por ser algo tão bom quanto uma banana serigrafada. É pura poesia norte-americana, música de três acordes, travestis. E Perfect Day é A música pra se ouvir num sábado ensolarado.


I Had The Blues But I Shook Them Loose (Bombay Bycicle Club) - A melhor indiezera dos últimos tempos. Um grupo que sabe transitar entre guitarras distorcidas que abalam suas ventas e a fragilidade de um post-punk anos 80. Belo instrumental, os caras mandam muito bem mesmo. Pena que o segundo disco é acústico, não tem a mesma porrada desse aí. Aposto muito nessa banda.


The Suburbs (Arcade Fire) - Trilha sonora para quem terminou com a namorada hehe. Uma banda que tem uma galera tocando um monte de instrumento, que faz um som bem original calcado num popzinho anos 2000 e umas pitadas de post-punk (afinal, esse gênero está em voga sempre). É um álbum conceitual meio longo, tem uma hora, mas vale a pena ouvir. Só achei a ideia em geral meio pobrinha. "Nos subúrbios, eu aprendi a dirigir"... Style


Fold Your Hands Child, You Walk Like A Peasant (Belle & Sebastian) - Você tem que ouvir! (Assim como toda a discografia deles). É simplesmente lindo, é como se toda a música pop boa de todas as decádas convergessem em uma banda de uma genialidade infinita e fizesse um monte de álbuns bons explorando todo tipo de musicalidade possível. Ainda não ouvi tudo, aliás. Mas esse disco foi o que mais gostei agora (e que inclusive me inspirou no post "Duas Marias aqui no blog).


Free Ride (Dizzy Gillespie) - Pra quem tem curiosidade em ouvir jazz, mas não sabe qual é o papo. Eu, por exemplo. É um disco de um grande trompetista, com ótimos músicos, tocando super bem ao longo de faixas com um apelo pop setentista. Tem inclusive um samba, maravilhoso, uma das melhores músicas já gravadas pela humanidade, "Incantation". A mixagem é muito boa também, diferente dos álbuns de jazz dos anos 50 e 60 (esse é de 1977).


Escaldante Banda (Garotas Suecas) - Não é uma banda genial, nem um álbum incrível. É só pura diversão tropical (haha). Um misto de psicodelismo, soul e rock de garagem, como eles dizem. Pra ouvir e se animar, se embalar a um som muito bacana que só faz enriquecer ainda mais o vasto cenário da música brasileira atual, com bandas boas como essa. Ouça sem pretensão, que você vai adorar. Tem órgão, tem suingue, tem menina cantando, tem até o Jacaré no clipe deles! 




Link para download de todos esses álbuns: clique aqui!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Apartamento

As poucas caixas de papelão abertas cheias de coisas velhas dentro davam o tom da situação em que se encontravam os dois rapazinhos recém-chegados. Era um apartamento pequeno, a pintura nas paredes parecia datar de anos atrás, as janelas e as portas mal abriam direito (e quando, com um barulho de se fazer ouvir no prédio todo), a cozinha estava cheia de baratas e osgas caíam do teto a torto e direito. Tudo era desgastado, menos a vontade de viver. Lucas havia vindo para a capital estudar em uma grande faculdade, e Rafael estava lá para tocar uma loja de discos do seu amigo. Mal conheciam a cidade, e cada detalhe, por mais banal que fosse, se tornava apaixonante.

A vista da janela era simplesmente sem graça, e não tinha nada pra olhar, só fumar mesmo. Lucas trouxe um whisky antigo roubado dos pais para comemorar a liberdade, a onda branca de alegria, o arrepio na nuca. Um toque descuidado de Rafael, e a bebida balança no copo com os gelos rebolando. É preciso muito jogo de cintura mesmo pra não parecer outra coisa quando só se pode mostrar uma coisa em certas situações. Ou o tempo todo. Cigarros e álcool, a noite chegando, e o zumbido da vida lá fora parecia ficar mais alto a cada hora. Sem tempo para a euforia de dois meninos, olhando um para o outro, e olhando pra casa.

Daí o sonho acaba e vem aquele flash, aquela lembrança instantânea sobre responsabilidades que todo mundo que se acha alguma coisa não gosta de ter. Ou o contrário, Lucas ainda iria descobrir isso. Rafael ficaria só lendo livros mesmo, beijando Madame Bovary no colchonete furado cheio de traça na cabeça. O primeiro dia ia muito bom, músicas rolando no Stereo e fumaça de cigarro pela casa inteira. Na hora de escovar os dentes, teriam que dividir a mesma escova, mas isso era um prazer até meio que fraternal. Completamente, na verdade. Apesar de não serem parentes, não se importavam de se verem nus, afinal, toda nudez há de ser admirada.

Danem-se os gêneros, vamos ouvir um pouco desses dois rapazes tocando violão e cantando harmoniosamente. É o último cigarro e um pouco de cinza caiu no sofá. Tudo bem, nada que um pouco de amor de amigos não resolva. E a lua ia crescendo, as pessoas lá fora iam morrendo, as baratas passeando e nenhuma osga pra cair na cara de ninguém. Só um lençol e dois travesseiros, uma cama de madeira com os pés em falso e um pouquinho assim de inocência. Um gole de água, os lábios molhados e a respiração mais perto, descompassada com a sua. Embora nunca tivessem tentado, aconteceu. E se beijaram até o mundo acabar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tame Impala "Innerspeaker"

Entre meus amigos rola uma discussão que parece não ter fim, aquela questão polêmica que instiga nossas cabecinhas retardadas: o rock de hoje em dia é tão bom quanto o que era feito antigamente? Com a descoberta da banda Tame Impala o debate ficou mais interessante. Esses australianos se lançaram recentemente no cenário internacional e já se tornaram um fenômeno no meio alternativo, tocando em vários festivais por aí. Depois de ouvir o primeiro álbum deles (por enquanto o único), me assustei. Fazia tempo que algo não me surpreendia tanto, e o som psicodélico deles me agradou muito.

A primeira coisa que chama atenção no rock do Tame Impala é o vocal de Kevin Parker, que se assemelha fortemente com o do beatle John Lennon. E a semelhança com o fab four não pára por aí. A mixagem do disco é toda vintage, com destaque para a bateria, que parece ter sido gravada com um canal apenas. O som da banda é inspirado fortemente na década de 60 e as bandas psicódelicas da época, principalmente os Beatles e mais especificamente dois álbuns deles: Sgt. Peppers e Magical Mistery Tour. O que se percebe é que o grupo faz uma retomada ao passado, acrescentando sua musicalidade a gosto.

Seu estilo já fica bem claro na primeira música, "It's Not Meant To Be", com guitarras viajantes e uma linha de baixo muito bonita. Parker, o homem por trás do álbum (sendo que mais dois músicos gravaram algumas coisas também), usa vários efeitos na sua guitarra para tirar um som lindo, marcante, que permeia por todo o Innerspeaker ao lado do baixo e bateria mais rústicos - mas não menos trabalhados - e um senso melódico afiado. Vale a pena destacar as músicas "Alter Ego", com sua frase de guitarra - ou synth? - linda (viajo muito nessa); "Why Won't You Make Up Your Mind", com um ar meio etéreo e versos grudantes; "Solitude Is Bliss", que tem um clipe muito bacana (jogue no youtube); "Runaway, Houses, City, Clouds", piração de sete minutos, viagem pura e psicodélica do jeito que a gente gosta; dentre outras.

Apesar de a semelhança com o rock sessentista e setentista ser inevitável, após ouvir sua primeira obra, Innerspeaker, eu acredito que o Tame Impala faz algo mais do que simplesmente olhar para trás. A banda acrescenta algo novo no cenário do rock atual, não que seja melhor ou pior do que qualquer coisa. É a prova de que o passado é sim maravilhoso, com bandas maravilhosas e tudo, mas a boa música não se restringe apenas a esta época e ninguém está esperando o Messias chegar para ser o próximo Pink Floyd ou Led Zeppelin da vida. O Tame Impala faz essa sincera e apaixonada homenagem às bandas do passado, mas cria um som pra frentex que vai agradar tanto a galera retrô quanto a galera hipster.

Um agradecimento ao meu primo Lucas Estrela (que vai ficar meio puto de ver isso  aqui, mas tudo bem) e um beijo para vocês

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Albert Camus "O Estrangeiro"

Esse livro foi uma grande surpresa para mim nessa despretensiosa tarde de Segunda-Feira. Depois de ter lido o maravilhoso romance de Franz Kafka, "O Processo", procurei por uma leitura curta e aparentemente interessante. Daí lembrei desse "O Estrangeiro" que estava na minha estante há um bom tempo. Aliás, ele pertencia ao meu avô, e trata-se da primeira edição da obra no Brasil, pela Abril Cultural, de 1972 (!). E surpreendemente o livro não me deu alergia, pois estava lindão com as páginas muito pouco amarelecidas. Mas enfim, vamos se ater a obra em si, que é muito bom.
 
A música "Killing An Arab" do grupo The Cure, é inspirada no livro

O protagonista chama-se Sr. Meursault e é um daqueles personagens peculiares (perturbados, talvez?) que permitem-se a identificação se você é um deles - ou se tem um pouquinho deles aí dentro, o que provavelmente é verdade. Logo no primeiro parágrafo da narração, que é em primeira pessoa, percebemos que o tal Sr. Meursault é um sujeito indiferente ao mundo, e que tem um certo modo especial de lidar com as coisas: até mesmo a morte de sua mãe não parece lhe abalar. E a sua personalidade apática só se reafirma ao decorrer da primeira parte da história, que é pontuada com um desfecho trágico.



A segunda parte funciona como uma prova à pessoa de Sr. Meursault, que se vê diante de uma grande reviravolta na sua costumeira rotina. E aí a obra me lembrou o último livro que li, não por serem parecidos, mas por levantarem uma mesma questão: a culpa. O livro no caso é o já mencionado "O Processo". Vale ressaltar, com muito cuidado, que são livros diferentes que tratam de assuntos diferentes, mas que na minha opinião me ajudaram a pensar nesse negócio de culpa, justiça, responsabilidade, justamente por terem esses pontos em comum (mas apesar de nem sempre demonstrarem o mesmo posicionamento quanto a estes).


Caminhando para um final pessimista (ou otimista, depende de você), o livro demonstra como até mesmo um ser lunático, interpretado como um alienado em um ambiente normal, tem tudo a ver com a realidade. Afinal, como diz o livro em suas últimas páginas, em uma incrível epifania do Sr. Meursault, todo mundo é culpado do mesmo jeito, e condenado à mesma sentença. E se o mundo é indiferente, podemos pelo menos nos confortar em sermos indiferentes também.


Um beijo para todos e mais uma incrível recomendação literária do seu querido Mateus Pratagy s2



terça-feira, 4 de outubro de 2011

Parte Um (Depois vem mais)

Está tudo pronto para o jantar. Refrigrante, pão careca (quentinho, acabou de sair do forno), queijo, presunto, manteiga. Tudo nessa sacola plástica branca meio que pesada que é carregada de modo a flutuar apenas alguns centímetros do chão. Chão sujo, fedido, sai até uma fumaça decorrente da chuva que acabou de cair. Faltam apenas alguns minutos para estar em casa, e o caminho que falta para chegar denuncia o seu atraso e a sua lentidão. Não tinha jeito, era sempre o último: o último da classe, o último da corrida da Educação Física, o último a chegar em casa para o jantar de todos os adolescentes que tinham que estar em casa na hora do jantar. A vida não é mole, meu amigo! Muito menos dura, afinal, a vida não tem forma física.

Havia um fato muito bom de estar andando pela rua a noite, com aqueles sacos sob os braços: as luzes dos postes eram muito bonitas. Eram douradas, fracas, com um brilho de criminalidade e delinquencia. Mas disso já estava farto: assistia todos os dias ao Jornal Nacional, banquete de sangue e derrame de vinho. Infelizmente, pelo jeito que iam as coisas, teria que romper o hábito hoje: a essa hora, já estava começando a novela das oito. Sem maiores preocupações: a violência e o desgosto estão na cabeça de quem os cria. Se bem que já chega de afirmações absolutas, absoluto só o tempo mesmo, que ia correndo um pouco mais rápido do que seus pés. E aqui há duas coisas a se comentar. Primeiro que, isso só reafirma o seu hábito de estar sempre em último. E segundo: caimos em absolutismos de novo.

Aliás, nada melhor do que afagar uma culpa de escritor do que tornar o leitor cúmplice do seu erro. (E vá lá, meu último absolutismo. Ou nosso, que seja.)

Sabe quando, progredindo em linha reta, as coisas acabam saindo confusas demais e, apesar de o objetivo continuar o mesmo, os meios ficam tortuosos? É como se pode explicar o que aconteceu: de um movimento retilínio, foi-se para um movimento em zigue-zague de pés pelo asfalto molhado. As luzes dos postes refletiam nas poças de água e pareciam ainda mais bonitas do que eram de verdade, acrescentavam prazer de andar pela rua - mesmo que pisando nessas poças e espalhando água pela calça . Surgia uma vontade louca de amar cada gato preto que passava por baixo de uma escada, cada velha fazendo croché ao som da novela dentro de suas casinhas decimonônicas, cada muro pichado de palavrões. Fica a dúvida se havia tanto coração para isso. Engraçado como para uns a falta é o excesso, e vice-versa. Veja o caso da Coca-Cola, quando ficar quente, ficará ruim, e amargurada para o resto da vida – enquanto que com o pão, é frio que fica desgostoso. Mas é claro que tudo isso se resolve com uma geladeira e uma chapa quente, respectivamente.

Do mesmo jeito que um rancor no coração se resolve com um beijo na testa.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Tamanho Grande

E a pomba rola voou. Uma vez me falaram que não se pode começar textos assim, mas eu estou experimentando só pra ver a reação de vocês. Não que alguém se importe com essa publicação mais que datada, mas enfim: esse post não tem nada a ver com pomba rolas. Nem com animals nenhum. É, com o erro ortográfico mesmo.

Certo dia ensolarado de verão uma mulher charmosa toda de vermelho ouvia um violão flamenco como trilha sonora de fundo de filme de verão. Aliás, quero que me mostres um filme de verão que tenha uma trilha sonora tão boa quanto essa que estava tocando naquele dia. Era um dia muito especial pra todo mundo, principalmente para a mulher de vermelho. Suas pernas pareciam pela primeira vez fazer parte do seu corpo todo, e não a guiavam, apenas obedeciam-lhe a vontade. E a vontade agora é de ir à sorveteria, encontrar aqueles sabores todos de cor de mel de pimenta e sabor de vermelho azul. É uma loucura só! só de pensar em toda a loucura só.


Sem grandes pretensões, sem grandes amores, a mulher de vermelho ia caminhando, toda incorporada a si mesmo. Isso era tão bom que já valia pelo verão inteiro, e podia tomar aqueles sorvetes todos em pleno inverno só pra lembrar de como foi bom aquele dia.

E isso foi tão bom, me sinto tão satisfeito, que já chega. Beijoca

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Velvet Underground & Nico

O que dizer dessa obra prima, que ainda não foi dito? Essa é a pergunta que me faço toda vez que começo alguma resenha sobre um disco, filme, livro, o que for. O fato é que “Velvet Underground & Nico” é um dos álbuns mais comentados e influentes de todo o sempre, e que reperticurá por muitos anos, enquanto a música pop existir do jeito que a conhecemos. Não é exagero também afirmar que assim que surgiu, o Velvet chacoalhou as estruturas do rock e definiu novos padrões para esse gênero que tanto gostamos. 

Mas você provavelmente já sabia disso ou pelo menos deve ter ouvido algo parecido. Então você ouve o álbum, gosta das músicas, cola um pôster do Lou Reed na parede e... afinal, onde é que está a diferença, o que é que o Velvet tem que os Rolling Stones, os Beatles e o The Who não têm?

O som do Veludo Subterrâneo é especial por vários motivos. Poderia-se dizer que eles são os precursores do punk. Ao longo deste primeiro álbum da banda, as músicas, apesar de algumas serem um pouco longas, a repetição é um fator preponderante. Heroin, por exemplo, tem sete minutos e dois acordes. Lou Reed, John Cale e companhia não se importavam em tocar muito bem, ou tirar um som rebuscado de suas gravações. A qualidade sonora do álbum não é muito boa, chegando inclusive a ser ruim em alguns pontos, como a bateria robótica de “I’m Waiting For The Man” e uma viola maluca que em certos momentos chega a dar dor de cabeça.

Sob a tutela do maluco Andy Warhol, grande (ou não) artista pop dos meados do século XX, os Velvet não se preocupavam em arriscar: em pleno 1967, ano de trips hippies pela Califórnia, a banda abusa de um som psicodélico, que pode soar até gratuito, como muita coisa gravada nessa época. Mas o que seria do rock senão o experimentalismo, a exposição de temas incomuns, não é mesmo? Logo no seu primeiro álbum o grupo trata de chocar o ouvinte acostumado ao bom rock britânico dos anos sessenta, falando sobre drogas, travestis, sexo, tudo isso de um modo como nunca foi dito antes na indústria.

Talvez Velvet Underground & Nico não seja tão impactante hoje, depois de estarmos acostumados a tudo isso. Eu, quando ouvi pelas primeiras vezes, não entendi muito bem o que tinha de especial esse tal “grande álbum, divisor de águas da música pop”. Talvez você nem goste muito – ou você pode virar fã logo de cara, quem sabe. Mas no fim das contas, Velvet é uma banda difícil. É um álbum difícil. E ao mesmo tempo fácil, se você pegar o espírito da coisa.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Gordinho

De certa forma, a cena era cheia de esperança. Um carro velho, mas bem cuidado, correndo atrás de um sol se pondo, de forma tão sutil que aqueles noventa quilômetros por hora eram exagerados se o objetivo era apanhar aquela bola quente. Ao contrário daquela outra bola, que veio nada sutil na direção do nada rápido goleiro gordinho. E acertou, foi na barriga dele, naquele monte de banha suculenta. Deste modo, pôs-se a vomitar copiosamente. Botou pra fora toda a comida que já tinha comido na vida, toda as gordices, gulotices, guloseimas, caramelos, marshmallows. Era uma cena nojenta, tão nojenta que cabe ao leitor que tem noção do que é nojento nesse mundo imaginar o que se passou nesse campinho de futebol.

Não que tenha sido algo importante, tão importante quanto o casamento do tio do gordinho, mas que foi algo que ficou sendo falado por semanas, talvez meses, no bairro, isso foi. A coisa estava preta: mais pra lá do que pra cá. Nem o guarda aguentava mais, tanto é que ele mesmo botou fogo no seu próprio boné. “Vê se pode”, vociferou a Dona Carochinha, “esse disco é muito gente boa mesmo.” Mas não é só de relações efêmeras que a vida se expressa: no esporte, também. Afinal, o prazer físico tambêm não está contido apenas nas relações efêmeras: pode estar também na prática de esportes. E assim como uma noite de prazer pode resultar numa sífilis, uma partida de futebol pode resultar num enjoo.

É claro que essa comparação é absurda. Entre um simples enjoo e uma sífilis, há inúmeras doenças terríveis de diferença. Mas o que seria um detalhe, dentro de muitos outros detalhes, dentro desse contexto de coisas rápidas, fogos que se ascendem e apagam rapidinho, rapidola? Nunca deixe um gordinho jogar bola. Muito menos ser goleiro: afinal, eles não tem charme ao usar o isqueiro. Não que esse gordinho fume, até porque Marlboro Red de ruim virou estrume. Se é de cavalo, eu não sei, a pressa pela perfeição não se olha os dentes. Ah, perdi o embalo, a roupa do rei.

Foi então que ocorreu aquela cena cheia de esperança, o ponto de largada da nossa corrida imaginativa. Talvez não seja nossa, só minha, eu nem minha. Talvez seja como a de todos os outros que nem eu: de ninguém, perdida ao vento, sem nenhuma honra nisso. Sem orgulho, tenho que admitir que estou perdendo o orgulho. Isso é bom, ou não? Acho que pode melhorar muito o nível das coisas por aqui, assim como o carro velho mas bem cuidado pode voltar trazendo novas esperanças para a galera. Sim, porque curupira, matinta e javali são todos da galera. Até o Pitfall.

Um final com esperança talvez seja um bom sinal. Esperança de que o gordinho pare de vomitar ao jogar futebol, esperança de que o carro velho não pife no meio da estrada. Segure na minha mão, vamos andar nessa terra desconhecida, eu prometo, que um dia, tudo vai ficar bem.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Jack Kerouac "On the Road"

Se você curte um negócio meio underground, já deve ter ouvido falar ou de On the Road, ou de Jack Kerouac. A viagem de dois americanos doidões pelos Estados Unidos - retratada nessa obra – representa a geração beat, uma onda de malucos que surgiu lá pela metade do século vinte e influencia toda a cultura pop até hoje. Pode parecer exagero, mas após ler o livro On the Road (cobatizado toscamente de Pé na Estrada) todo tipo de comentário sobre a obra pode fazer sentido. Imagine uma nação conservadora deparar-se com seus jovens lendo um livro sobre vadiagens na américa, o novo continente cheio de esperança. On the Road é, além de tudo, e antes de mais nada, uma desilusão quanto ao sonho americano, um soco na cara na “grande associação de pais e mestres que é a América conservadora”, como diz Eduardo Bueno na introdução da publicação.

Rompe também com vários conceitos da literatura, sendo assim um forte exemplo da subliteratura, seja lá o que isso signifique. Por exemplo: On the Road foi escrito segundo à ideia de “fluxo de consciência”, uma viagem que o autor escreve o livro sem roteiro nenhum, sem nada pronto, apenas sua máquina de escrever, várias folhas de papel manteiga uma colada à outra, sem parar. Jack fez isso, é claro, abastecido de café (e não benzedrina, segundo o Wikipédia afirma). A gramática do livro é, também, uma loucura. Digo, não que esteja errada, o que eu não posso afirmar, mas é de uma certa forma atípica. Vários adjetivos ligados ao mesmo substantivo? Parece só uma bobagem desnecessária, talvez seja, mas quem lê toda essa bobagem e se deixa levar pelo som do jazz americano assim como Jack fez ao longo do processo de criação do livro, não se importa.

Sal Paradise e Dean Moriarty viajam por todo canto, voltam para suas casas, viajam de novo, viajam para mais longe, se perdem por aí. É o ápice da filosofia junkie de ser. Sair por aí, sem lenço e sem documento, em busca de alguma coisa que ninguém sabe bem o que é, fazendo o que der na telha. O livro aborda todo tipo de tema: sexo, maconha,  jazz, brigas, bebedeiras, casamento, filhos, caminhões, bares de beira da estrada. É maravilhoso, é lindo: toda essa liberdade faz você querer também romper com tudo e todos e se jogue nessa desesperança que é a vida na cidade grande. Largar tudo que é falso e cair num mundo onde tudo é mais falso ainda, descaradamente falso.

Apesar de longo, On the Road consegue manter um bom ritmo até o fim e mantêm-se muitas vezes nem por ser realmente bom, ou algo do tipo, mas simplesmente por ser a loucura mais sincera que saiu da cabeça de Jack Kerouac. Talvez não tão sincera, como eu li por aí, mas vamos ser francos: On the Road é mais real do que muita coisa que você lê por aí. Está tudo lá, sem frescura, mas nunca preguiçosamente. Um livro pra curtir, talvez não em português – como eu li – mas de qualquer jeito. Se você gosta pelo menos um pouco de alguma coisa legal, leia. Se você é jovem, leia. Se você ama a vida, do jeito que ela é, ou não, leia. Eu pelo menos, já li. Hehe

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Franz Kafka "A Metamorfose"

"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso."

Esse trecho é uma das frases iniciais de livros de todos os tempos, e é bem emblemática também. Mais emblemático ainda, é esse livro, que escolhi para comentar um pouco aqui para vocês, leitores desiludidos do Veliko. Mas por que "A Metamorfose"? Não que eu tenha entendido muito do livro, ou capturado mais do que o senso comum perceberia ao ler a obra. Este romance é simplesmente interessante, por algum motivo especial que eu não sei bem como explicar. Talvez a história principal seja o mais chamativo: um homem que acorda transformado em um inseto gigante (por convenção, uma barata) se vê desafiado a lidar com o mundo dessa forma monstruosa.

O autor, Franz Kafka, apresenta um estilo de escrita muito seco e sem floreios, objetivo mas não jornalístico, como fazem alguns outros autores. Seu texto não precisa de emoção ou sentimentalismo barato, forçando o leitor a se envolver à história. É forte o bastante para o leitor gostar daquilo tudo sozinho, e se sentir na pele da barata. Ou quase isso. O retrato bem-feito da mente humana e de "todos seus espectros emocionais" faz com que o leitor se identifique e comece a divagar sobre toda aquela situação constrangedora e maluca.

Roubando umas palavras do meu professor de filosofia, eterno colaborador desse blog, A Metamorfose se trata de um estudo sobre a psique humana, diante de uma situação extrema e absurda, buscando os aspectos da humanidade que não são considerados quando se tratam do homem apenas como o homem racional. Algo assim. É uma ótima leitura, um clássico da literatura, não é nada complicado de entender, e você vai se divertir ao acompanhar Gregor Samsa nos malucos dias na pele de uma barata. É uma viagem... uma boa viagem.

E, como dizem por aí, ninguém se pergunta por quê as pessoas não conseguem sair da casa em "O Anjo Exterminador". Só pra fazer uma citação cult pra vocês mesmo, porque nunca vi o filme. Beijoca

terça-feira, 26 de julho de 2011

Flamingos

De certa forma, a morte de Ivan não lhe trazia nenhuma tristeza ou pesar, e o ambiente genérico de um funeral não parecia lhe abalar tanto quanto aquele outro funeral três meses atrás do qual comparecera. Marcos não era de fato um homem forte, mas nem muito sensível. Tinha uma certa instabilidade de seu líquido emocional interior, aquela substáncia que se move em cores psicodélicas dentro do âmago de quem tem uma certa instabilidade mental e física. Não que essa seja aquelas caractéristicas que segregam pessoas e as abandonam no fundo de quartos com remédios tarja preta, ou mesmo no fundo de manicômios. É apenas uma instabilidade da qual todos os seres humanos uma certa vez na vida experimentam, e que Marcos estava experimentando agora mesmo no funeral de Ivan.

A morte de Ivan, como pode-se perceber, é uma referência literária frajuta que um pobre autor de dezesseis anos preparou às três da manhã, pensando que algo interessante poderia sair daí. Se para o leitor interessa mais a morte de Ivan ou o personagem de Marcos, não importa, pois importante mesmo é se Rebeca irá cortar o fio vermelho ou o fio azul. A vida de trezentas pessoas está em uma possiblidade exata de cinquenta por cento (ou não, se considerarmos a predileção dela por rosa, que é mais próximo do vermelho): se Rebeca saberia desativar a tal da Bomba Atômica.

Mas toda a humanidade será poupada dessa besteira de voo do urubu, menino fumando na privada, velha gorda gritando, almas do inferno no filtro de seu Malboro Red: dessa vez a luz branca guiará todos para o fim do túnel, já que incoerências matinais após cada vírgula serão enterradas bem fundo junto com o caixão de Ivan. E ninguém vai derramar uma lágrima, porque Marcos vai chorar por todo mundo lá no fundo do seu quarto, tomando remédios com tarja de flamingos.

domingo, 17 de julho de 2011

As Duas Marias

Maria estava retocando a maquiagem ao redor dos olhos, reforçando o preto que já era forte, tudo para parecer com alguma coisa que ela no fundo não é. Tudo bem, não podemos sair julgando por aí se ela é ou não, mas a sua irmã Maria achava mesmo que ela não era. Ah sim, vamos estabelecer uma diferença, já que as duas se chamam Maria: a primeira, da maquiagem forte, atenderá por Maria Helena em nossa história, enquanto a outra será Maria Clara. Na verdade, as duas se chamam simplesmente Maria mesmo, mas convenhamos que Maria Helena e Maria Clara é melhor do que Maria Um e Maria Dois.

Maria Clara detestava maquiagem, ainda mais maquiagem pesada. Gostava apenas de arrumar o cabelo, embora ficasse linda de cabelo solto mesmo, jogando-o por trás das orelhas. As duas mal conversavam, embora estivessem uma do lado da outra. De vez em quando alguma pedia um objeto para a outra emprestado, o que era perfeitamente normal (quando não estavam brigadas, é claro), mas dialogar que é bom, nada. Havia uma certa tensão no ar quanto à comunicação das irmãs.

Maria Helena era meio que a avant-garde das duas, adorava se vestir estranhamente e agir mais estranho ainda, embora no fundo caísse no clichê adolescente de meninas na flor da idade. Por isso mesmo, Maria Clara era a mais sensata das duas, e embora parecesse ser mais pé no chão, tinha uma imaginação mais aguçada e sentidos à flor da pele, abertos ao mundo e as experiências novas. Só não sentia uma vontade louca de estampar isso na testa, por isso mesmo sentia-se linda de cabelo solto e por trás das orelhas.

Se arrumavam para um baile, e tinham que estar bonitas porque o pretendente de sua mãe estaria lá, e todas teriam que estar apresentáveis. De repente, a tensão no ar rompeu-se quando a mão de Maria tocou a mão repousada na coxa de Maria. Apertaram-nas, e aproximaram o rosto. O olhar de cada uma contia agora uma certa tensão sexual, o que resultou em um beijo. Não exatamente um beijo, mas aquele tipo de beijo em que os lábios ficam roçando uns nos outros, e a respiração vai ficando mais forte. Se beijaram até o mundo acabar.

sábado, 16 de julho de 2011

A História Mais História de Todas

O Respeitado Homem de Alta Posição Social caminhava na Rua Principal da Cidade Mais Linda de Todas, enquanto assobiava uma bela canção de um novo disco que tinha ouvido, o Disco Mais Bonito de Todos os Tempos. A música era tão boa, e a melodia tão grudenta e ao mesmo tempo suave, que o homem não parava de assobiar, o dia inteiro. Quem não gostava mesmo de seu andar serelepe e canto feliz era o mendigo, o Mendigo Mais Mendigo de Todos.

O senhor, rico e tudo, foi até o mendigo - isso mesmo, ele dirigiu-se ao indigente por conta própria! - e cumprimentou-o. Por pura falta de educação e mal querência, o pobretão ignorou o Respeitado Homem, e deu uma cusparada no chão. É claro que, o homem ficou extremamente desconcertado com esse desrespeito. Pulando a cordialidade, tentou puxar assunto comentando sobre sua cunhada que estava precisando de um jardineiro, e que um emprego faria bem a um mendigo jogado nas ruas por aí.

Novamente, o Mendigo Mais Mendigo de Todos agiu com desrespeito e intolerância e deu outra cusparada, só que desta vez no sapato de couro perfeitamente engraxado do Respeitado Homem. Ficou boquiaberto como outrora, porém nada magoado: o homem rico entendia perfeitamente que o sol não nasce para todos, e tentava se imaginar no mesmo papel. Só não entendia porque cuspir logo nele, quem sempre oferecia emprego e jantares na sua casa para o homem pobre.

Sentou-se no meio-fio da calçada e passou o braço em cima do ombro do mendigo. Começou a cantar aquela mesma música do Disco Mais Bonito de Todos os Tempos, mas o mendigo ficou mais fulo ainda, levantou-se de uma vez, botou a mão no bolso e pegou uma moeda de ouro. Fez um gesto oferecendo o objeto para o homem rico sentado na calçada, assim como os homens ricos oferecem moedas de ouro aos mendigos sentados na calçada. Tendo o homem aceitado a moeda, o mendigo deu de costas e saiu andando pela rua, assobiando aquela melodia bonita do início da história.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Mais Alguns Parágrafos

No rosto refletido pela lagoa iluminada à meia-luz jazia um certo desespero, misturado à uma pseudotranquilidade, por mais que essas duas sensações pareçam ser opostas uma a outra. O suor pingava da testa até a água, e os sapos saíam da terra para ir nadar, e vice-versa. Com as duas mãos, o sujeito lavou seu rosto repetidamente como alguém que tenta lavar a alma de um pecado horrendo com água benta. Era inútil, a sua retina ainda continha aquela imagem terrível, enquanto a retina do velho Sebastião ainda continha a sua imagem: a figura do assassino, que agora chora sem parar à beira da lagoa.


Quando nascem, as crianças de boas famílias crescem com a ideia de separar quem é do bem, e quem é do mal. Paulo, de fato, foi uma dessas crianças. Quando poderia imaginar-se um assassino? Em contexto algum tamanho absurdo seria um futuro palpável, era impossível: criado com a melhor das educações que uma família classe média podia lhe dar, formado em um dos melhores colégios particulares da cidade. Jogava bola todos os finais de semana, tocava violão e tudo o mais. Ao crescer, infelizmente, caiu na problématica que muitos recém-adultos se encontram: desempregado, desiludido e o pior de tudo, apaixonado por uma menina da sociedade. 


Por um amor que supostamente devia estar morto nos romances do século dezoito, devido suas proporções românticas sem tamanho, Paulo assassinou um homem de idade, de posses e influência, em nome de sua amada. Mal conhecia o coitado, então a ideia de assassiná-lo por dinheiro e perspectiva na vida pareceu-lhe aceitável. Apenas um fato parecia ao mesmo tempo puxar-lhe para um lado e para o outro: o velho Sebastião era ninguém menos que seu pai biológico. O homem que teve um caso com sua mãe, a boa Dona Clô e fugiu de casa, deixando para ela apenas a esperança de um dia tudo ficar bem novamente.


Simultaneamente, o ódio por um traidor e a compaixão por um familiar tomaram o coração de Paulo, que de fato gostaria muito da herança que essa morte poderia lhe proporcionar. O casamento, a estabilidade, uma nova casa, um carro, tudo, tudo pesava na balança de um sujeito desgraçado que nada tinha a perder com esse crime, apenas sua sanidade. Não que ela estivesse sã só de deparar-se com a ideia do ato, mas poderia ir água abaixo de vez.


A conclusão desse dilema vocês já sabem, e talvez a falta de clímax tenha os decepcionado bastante. Mas não há como ignorar que, como Paulo, são poucos os que abandonam sua sanidade para tomar um rumo tão obscuro em suas vidas. Na maioria do casos, a opção de manter ou não uma mente sã não existe. E para os que nascem assim, só mesmo a sorte para afortuná-los de uma vida boa, ou se não vivem da desgraça mais desgracenta possível, daquela desgraça que é tão desgracenta que os engraçados ainda tentam deixar mais desgraçada ainda. E conseguem.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quatro Paragráfos

Observando a poça d'água iluminada, mascando chiclete de morango, não estava ninguém, porque não tinha ninguém na rua. Em uma quitinete, sentada na beira da janela, aí sim estava alguém - sem roupas, aliás  - uma mulher chamada Maria. Mas ela não tinha nada para falar, então não pode-se falar nada sobre ela. Em uma casa no subúrbio, uma mãe pega o filho fumando sentado na privada. Talvez isso renda mais um paragráfo, ou dois, quem sabe.

Mal sabia tragar, o menino, mas a mãe fazia questão de fazer frango com batatas todos os dias, ao invés de cozido de carne, como pedia o filho. Infelizmente, de pequenas divergências é que se encontram agulhas no palheiro, enquanto pêlo em casca de ovo, que é bom, nada. O cigarro era ruim, a velha gorda gritando pior ainda, mas a sensação de poder voar como urubu em pleno céu do Ver-O-Peso era algo que o menino adorava: não que ele quisesse isso para o resto da vida, mas fazia questão de ler obras de Oscar Wilde todas as sextas-feiras.

Um negro sujo fedido e violento comia pão com ovo na esquina da Braz de Aguiar com Doutor Moraes enquanto um casal fazia amor até doer em um quarto escuro localizado no filtro do menino que fumava na privada da sua casa no subúrbio. Se a localização de subúrbio é do interesse de alguém, esse interesse está além até mesmo da sabedoria de Cícero, embora esse filósofo seja bem cultuado nos dias de hoje.

A expectativa era grande, e maior ainda é a expectativa de uma incoerência após uma vírgula, seja aqui, ou a milhas de distância do olho do urubu que voa sobre o Ver-O-Peso. Mas o que ninguém esperava, de verdade mesmo, era que aquele negro sujo fedido e violento comedor de pão com ovo um dia seria o homem que concertaria a bicicleta do menino que fumava na privada. Como os dois foram se encontrar, é uma resposta que está guardada dentro do filtro de um cigarro alheio, assim como um casal fazia amor dentro de outro filtro, porém de um cigarro conhecido, e já citado, aliás. 

domingo, 3 de julho de 2011

Videogame é arte?

Sempre que li ou ouvi algo sobre esse assunto percebi uma certa parcialidade na hora de responder à questão: jogos são arte? A verdade é que se a resposta vier de um viciado que chora quando o Link derrota Ganondorf em "Legend Of Zelda", pode apostar que será positiva. Então, vamos deixar essa frescurinha de quem joga PS2 cinco horas por dia ou não de lado, e levantar essa questão na boa, na paz. Afinal, é uma boa pauta que rende bons comentários. Indo direto ao ponto: não, eu não acho que videogame seja arte. Hehe.

Vejamos, "Super Mario Bros." tem música e tem visual. É praticamente um filme, só que você pode controlar a história (mais ou menos, mas vamos fingir que dá). E filmes são considerados arte, né? Então qual o sentido de eu achar que os jogos não são arte? Por um motivo bem simples: jogos são feitos para entreter (e vender, consequentemente), só isso. Arte, primordialmente, antes de conter algumas (ou todas) das belas artes, parte de um conceito básico: tem que expressar sentimentos humanos. O artista, ao fazer arte, está passando uma expressão e botando uma parte dele ali, naquela obra. E nos videogames, aonde é que fica a expressão do artista? 

Então quer dizer que Shigeru Miyamoto botou uma parte dele ali, na hora de fazer Mario, e todo aquele jogo representa seu estado de espírito, ou uma visão de mundo? Pois é isso que faz uma boa fotografia, ou uma pintura. Representam opiniões, ou, como eu adoro dizer, "todo um espectro de emoções humanas". O tal do Shigeru, como ele mesmo afirma, é apenas um entertainer! Ele faz os jogos de acordo com o mercado, de acordo com o que o público quer, e produz o mais vendável possível.

Veja bem: jogos podem conter arte dentro de si, mas não estão com o propósito de arte na sua sala de estar. Assim como o "mijatório" também não está com o propósito de arte no banheiro público da sua escola, apesar de ser uma bela duma obra de arte no caso de Fonte, do artista Marcel Duchamp. Jogos são feitos para entreter, um sofá é feito para sentar, um mijatório é feito para urinar: o que pode torná-los arte é o contexto, o propósito.
Sendo assim, vocês, que curtem os games (eu curto também, pra deixar claro), podem comentar aí de boa, mas sem essa parcialidade chata que preenche revistas especializadas e blogs afirmando que games são arte. Podem defender os games como arte, mas de uma maneira inteligente, como manda a cartilha da boa discussão. 

Beijoca (que eu tenho que acabar com o mundo nove aqui no Mario) 

sábado, 2 de julho de 2011

Não liga, tu és lindo.

Well, well, well, my drugs. Esse é o primeiro post depois das muitas comemorações, festas e parabenizações pelo aniversário do blog e... nada, só achei que devia comentar. Como aqui ninguém se importa com números e datas, vamos ao que realmente constrói esse maravilhoso complexo de ideias.
Recentemente, notei alguns comportamentos estranhos de diversas pessoas, inclusive de amigos, que me deixaram surpreso. Quer dizer, ao menos esses comportamentos deveriam ser estranhos, mas o meu medo e motivo desse post é exatamente o de parecer que eles não o são. Me refiro a comentários a respeito do que é belo, feio, econsequências dessas visões. E agora pretendo fazer algumas considerações à respeito.

Primeiramente vos pergunto: você, sagaz leitor, já parou um instante pra pensar por que considera figuras como Scarlett Johansson e Brad Pitt donos de extrema beleza? Não é uma pergunta tão simples de ser respondida, e nem por isso tão difícil. Mas o curioso, e ao mesmo tempo triste, é que nós nem ao menos temos controle de tomar essa decisão por nós mesmos. Sim, pois o conceito do que vem a ser feio ou bonito não somos nós que determinamos, e sim o sistema. Pois é, eu juro que queria evitar essas palavras vistas em todos os meus posts como sistema, capitalismo e outras, mas não deu.
Fato é que a nós é imposto tais conceitos. Isso acontece porque a mídia tem o poder que infelizmente Jesus Cristo não teve: o de nos influenciar da maneira que quiserem e o de fazer de nós o que quiserem. E cabe a ela decidir o que nós achamos de melhor no corpo das pessoas. Essa afirmação pode ser facilmente sustentada pelo fato de a visão do belo ter se modificado no decorrer dos séculos, e ainda mais nas últimas décadas com essa fase assustadora que vive o capitalismo - tsc, falei de novo.
Talvez quem estava realmente correto nesse assunto eram os homens das cavernas. Claro, afinal tudo era instintivo. Sem mídia para controlá-los, provavelmente eles(as) viam o verdadeiro belo nas pessoas, sem controle e escrúpulos. Contudo, essa não é a sociedade em que vivemos. E por isso vemos as coisas do modo como nos é dito pra serem vistas. De que forma? Se você nunca percebeu, aqui vai: através dos meios de comunicação visual - televisão, outdoors, revistas e etc. - somos, à todo momento, bombardeados pela beleza estereotipada por quem manda. E claro, como tudo nesses tempos é mercadoria, isso não deixa de ser.
Justamente por termos essa imagem introduzida em nossos corpos cranianos, tentamos
de todo modo acompanhá-las. E assim sustentamos o capitalismo, perseguindo não o belo, mas o que eles nos fazem achar belo. Academia, cremes, tratamentos capilares, roupas, dietas, maquiagem, dermatologistas... enfim, tudo em prol de alcançar esse estereótipo. Entretanto, isso não é o que mais indigna, afinal é só mais uma forma manter o sistema. O que me amedronta de verdade é o fato de que esse comportamento está cada vez mais presente e forte que os que não se submetem ou conseguem atingir o patamar de beleza desejável estão com
eçando a ser discriminados! Simplesmente, um absurdo!
Essa Sociedade Sem Espinhas está tão presente em nossas vidas que chegou a um ponto onde um adolescente se sente envergonhado de ir a uma festa com uma espinha no rosto. Algo que nem devíamos ter o poder de interferir já que é algo totalmente natural, biológico. Ponto esse em que um rapaz tem que implorar pra que sua namorada não use chapinha - pois é, acontece se é que me entendem.
Talvez Adous Huxley acertou mais uma ao colocar esse comportamento ao extremo no maravilhoso livro O Admirável Mundo Novo. Visão essa que foi vista com olhar de ridicularização na época, porém que a cada dia que passa, vemos se perpetuar. O pior é que com o passar do tempo, outros paradigmas virão, e, consequentemente, outras concepções de beleza, e o ciclo se renovará e continuará, e talvez os lindos de hoje sejam olhados com risos no futuro.


Sinceramente, não quero viver em uma sociedade onde eu não tenha o direito de ter espinhas e cabelo enrolado.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Ano Um

Veliko Valovi é um blog muito gente boa do Mateus Pratagy e seus amiguinhos (Lucas Ferreira, Maíra Ferraz e Lucas Domires)

Woody Allen "O Sonho de Cassandra"

Os filmes do Sr. Allen são esperados ansiosamente todos os anos, e a expectativa nunca é frustrada conforme o renomado diretor e ator (embora não esteja exercendo essa última função com frequencia) usa uma fórmula consagrada: um elenco estelar, histórias do cotidiano entrelaçadas de forma sutil e claro, os diálogos deliciosos. Embora não seja um fã das obras do diretor, gostei muito do que  vi e o considero um dos grandes, talvez menos por experiência própria e mais por senso comum, mas saibam que metade das coisas que eu falo seguem essa linha (mentira, só um terço).

Em "O Sonho de Cassandra", o grande Woody Allen sai da sua zona de conforto e cria uma trama intrincada de suspense que não deixa nada a dever aos filmes atuais do gênero, que são tão chatos (falando do circuito comercial, pelo menos). Em linhas gerais, o filme trata-se de um assassinato. Os irmãos Ian e Terry, interpretados por Ewan McGregor e Colin Farrell, respectivamente, têm que matar um homem chamado Martin Burns (Phil Davis) a pedido do seu tio Howard (Tom Wikinson). A ideia do filme, mesmo, é botar em questão o peso de uma morte, e de algumas coisas das quais somos expostos e propostos a fazer na vida.

Os irmãos então ficam num dilema "daqueles": o tio sempre foi o amigão da família e emprestou dinheiro e fez favores para todos, enquanto seus parentes, menos endinheirados, só ficavam nessa posição de sanguessugas. Mas é claro que - parafraseando o filme - "família é família, mas existe um limite". Se eles matam ou não o tal do Martin Burns, só vendo o filme, mas o ponto-chave do filme nem está nisso, e sim no peso de um acontecimento, como um assassinato. Será que, dependendo das circunstâncias, matar alguém (ou fazer algo do mesmo cacife) é aceitável? Vemos no filme que o principal dos fatores é quem vai fazer o que: algumas pessoas podem reagir bem, outras não, mas que fique claro que haverão consequencias, e a vida de ninguém é a mesma depois de algo tão grande.

Woody Allen põe em alta essa questão de forma exemplar, misturando sua sutilidade natural com cenas de suspense e uma trama carregada emocionalmente, graças à, além de tudo, as atuações ótimas dos dois irmãos. Não que o resto do elenco se saia excelente também, mas Ewan McGregor e Colin Farrell dão um show, nos mostrando como uma relação saudável de irmão para irmão consegue se tornar em uma problemática sombria diante de um dilema tão complicado.

Altamente recomendado, embora não tão gente boa quanto os outros filmes do Woody, só diferente (:

Obs.: apesar de termos esfriado totalmente o Veliko Valovi, cuidarei para suprir a demanda de textos que vocês, queridos leitores, estão ávidos para ler. Podem esperar mais uma resenha de filme e um outro post interessante sobre videogames. Beijo

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Crítica ao comunismo? Não sei.

Saudações fink ploydianas. Resolvi aproveitar o gancho deixado pelo Velikeiro Pai e o ex-veliko Ramiro para fazer esse post. Se você não sabe do que falo, leia os comentários do sincero Uma Conversa No Msn. Já leu? Ah, tanto faz, comecemos com o post em si.
Se engana quem acha que a minha proposta é mostrar algum lado negativo do sistema abordado. O que pretendo fazer é apenas envolvê-los em uma breve reflexão de intervalo entre as aulas que tive. E esse pensamento está mais voltado ao lado artístico, e, claro, é completamente especulativo e subjetivo.
Karl Marx, o barbudo da capa do Sgt. Peppers, nos mostrou um sistema sócio-econômico chamado comunismo que, pelo menos na teoria, é o ideal para a convivência terrestre. Nele todos somos comuns, temos igual acesso aos bens de consumo, plena liberdade de expressão e tudo o que teoricamente nos proporcionaria uma condição de viver felizes. Essa aula muitos de nós já tivemos, e, muito provavelmente, a você foi mostrado o comunismo em sua forma mais gente boa, ou, como eu disse anteriormente, como o sistema ideal para o ser humano. Partindo disso, alguns pensamentos começaram a se misturar em minha cabeça.
A ideia inicial que tive é a seguinte: o capitalismo, desde a sua forma mais primitiva, é impulsionado por inovações tecnológicas, e disso não temos maior exemplo do que os tempos que eu e vocês, meus queridos, vivemos. E justamente por causa dessa guerra tecnológica praticada pelos neoliberais pra que esses consigam cada vez mais competitividade no mercado, várias empresas - em especial a transnacionais e de grande porte - investem massivamente em pesquisas. E por último, essas pesquisas são o que geram as inovações que chegam ao mercado e em nossas casas todos os dias. Em uma sociedade comunista, onde a competitividade não mais seria importante, o mundo ficaria estagnado tecnologicamente?
Bom, a resposta que obtive, que aceitei e que vos mostro partiu da pessoa que deveria administrar o Lasanha Com Farinha, ou Guilherme Carvalho, ou meu pai (só pra dar uma alfinetada no Alexandre). Num mundo comunista, a produção em larga escala seria desnecessária, e, com o controle da mercadoria e dos meios de produção, o trabalhador não seria forçado a trabalhar diariamente por muitas horas. E provavelmente as coisas funcionariam como funcionava com os gregos. Com o tempo "ocioso", o cidadão teria muito mais liberdade para filosofar, produzir conhecimento e arte.
E então, meus caros, a última palavra do parágrafo acima se tornou a motivadora desse humilde post. Na verdade, o real motivo foi somente a ideia de pensar que se o mundo fosse comunista, eu nunca teria conhecido as obras do Pink Floyd, mas ignore isso.
Nessa mesma sociedade comunista, onde todos teríamos plena liberdade de nos expressar, inclusive astisticamente, esse mesmo meio artístico cresceria muito, exatamente como o que aconteceu na Grécia. Técnicas novas para todos os meios de arte manual, novos estilos musicais etecétera etecétera. Mas e quanto aos temas abordados?
A arte é reflexo da compreensão, "filosofia de vida", costumes e cultura de um povo. E agora me arrisco dizer: se a razão e igualdade social forem as bases que sustentam tal sociedade - como viria a ser num regime comunista -, ela teria diversas perdas no meio artístico, pois muitos temas perderiam a importância, validade ou mesmo não existiriam. Por exemplo, obras - que ao menos eu considero sensacionais - como Animals, The Wall e Dark Side Of The Moon do Pink Floyd, Taxi Driver, Fight Club e muitas outras perderiam a validade, afinal, pelo menos em parte, elas almejam uma sociedade que já teria sido alcançada. Tudo bem, essas já foram feitas, mas e as próximas gerações de uma sociedade comunista? Fariam arte sobre o quê sem ter o que almejar?
Está aí a problemática em que nos coloco. Claro, ainda existem inúmeros assuntos a serem expressados, entretanto, outros muitos não seriam. Por exemplo, alguns filósofos e pesquisadores defendem que se o homem se governasse cada vez mais usando a razão, coisas como a religião perderiam força por desafiarem o intelecto por afirmar verdades vindas da fé, sem validade científica (por favor, atentem-se à expressão "sem validade científica", isso não significa que as ignoro ou condeno). E colocando isso na questão da arte em uma suposta sociedade comunista, como ficariam os temas religiosos extremamente explorados desde os primórdios do homem?
Pois é, eu acredito que esses temas seriam quase perdidos e outros deixariam de poder existir. "Ha, então tu estás dizendo que o comunismo seria prejudicial pra sociedade?". Mas nem pensar. Independente dessa confabulação que tive e da extrema importância que dou à arte, ainda - até hoje, pelo menos - vejo (não em sua totalidade, que fique claro) que esse é o sistema mais gente boa que poderia vir a habitar a Terra. Talvez não... quem sabe?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma Conversa no Messenger

Mateus Pratagy diz
nós todos somos capitalistas, caro xande

uns menos outros mais mas no fim estamos todos inseridos no mesmo sistema brasileiro de cidadão padrão

na verdade acho que nem é a questão de ser menos ou mais, é a questão de classe social, mas que se fores pensar cada classe social participa do capitalismo com a mesma intensidade, a diferença é que as altas classes se dão melhor

ou não, visto que tem muita gente prejudicada que vive feliz, que nem a minha funcionária
que na opiniao dela, é super feliz

outro ponto a se destacar é que quanto menor o acesso aos bens do capitalismo

menor é o requisito mínimo de felicidade

algo a se pensar, com certeza

Lucas Ferreira diz
ai, ai.... não vou nem ler o que tu escreveu..

Mateus Pratagy diz
azar o teu

porque dessa vez nao foi besteira

e eu queria saber tua opiniao sobre a minha opiniao, mas como sua disposição quanto a minha opinião está para baixo

não insistirei

Lucas Ferreira diz
... tsc, vou ler -.-

Mateus Pratagy diz


Lucas Ferreira diz
concordo em alguns pontos

mais especificamente no de todos participarem, porque querendo ou não, todos somos merda do mesmo saco de bosta

maaas o papo do requisito mínimo de felicidade, não aacho que seja uma verdade universal

existem muitos casos até, mas isso não assegura a afirmativa que tu fez

Mateus Pratagy diz
sim

também concordo contigo

Lucas Ferreira diz
porque sempre buscam mais capital, por consequência, um maior requisito do que quer que seja a felicidade

Mateus Pratagy diz
todo caso tem suas exceções (esqueci como escreve), mas nesse caso as exceções são varias

mas agora veja bem. se deres vinho bom e peito de galinha pra um carinha lá da favela, vai ser um dos poltos altos do mês

enquanto que peito de galinha tem todo dia aqui em casa, e não é o ponto alto do mês pra mim. eu gosto quanto tem macarronada

Lucas Ferreira diz
ah, saquei...

Mateus Pratagy diz
tu podes dar algumas coisas pra maior parte da população classe media baixa/classe baixa, e eles vao ficar alegres da vida

mas tem muita gente tem que tem tudo isso e quer mais

mas como o carinha pobre nao conhece essas coisas boas da vida, ou se conhece, já sabe que vai morrer sem experimenta-las

deixa por aí mesmo

Lucas Ferreira diz
de fato, quando não se estabelece um padrão muito alto, qualquer coisa que fuja a esse padrão é muito

Mateus Pratagy diz
exatamente

isso é um jeito inteligente de dizer aquela velha historia

"não gosta de sopa? imagine o menino pobre que nao tem nem o que comer!"

Lucas Ferreira diz
é, mas sou contra esse tipo de 'fala'

acho que tu entende por que

Mateus Pratagy diz
eu entendo

e eu também

mas a verdade é que existe prós e contras de pensares "por baixo"

tipo, eu estou sempre tentando pensar por baixo, e ver que a minha vida é muito boa

mas por outro lado é muito ruim

é complicado. existe uma linha que divide o conformismo e a "visão da realidade"

ou melhor, satisfação
é importante estar satisfeito mas nunca conformado, se é que isso existe

Lucas Ferreira diz
o papo poderia ficar melhor, mas tenho que ir...

flw, amiguinho

Mateus Pratagy diz
xau

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Quando os Homens se tornaram porcos?


Quando foi que a nossa raça desistiu de tudo por amor ao egoísmo da vida capitalista, sim acho que o socialismo utópico seria o paraíso imediato na terra, mas também acredito que isso tudo é besteira, afinal não vai mais dar certo mesmo... O ser humano o ser mais evoluído do planeta, sério cara que lixo de espécie nós somos, matamos , roubamos e mentimos descaradamente por bel-prazer... Só pode ser por prazer porque se fosse ruim a gente não fazia. Já o pior é que além de saber que meus genitores são pessoas corrompidas, é ter uma conversa com um ser jovem com o mesmo numero de cromossomos e anos de vida que eu e ver que ele acredita que sonhar por um mundo melhor é somente belo... Mais que merda... Da pra entender esses caras que explodem os miolos por perder a fé na humanidade, nem mesmo um cara que se colocou em uma cruz acreditando em uma filosofia de paz e amor, junto com uma rapaziada tão sábia quanto ele e boa com as palavras, conseguiu mudar o mundo... Se o fim um dia tem de chegar é pra gente e não para os outros seres vivos que só fazem seu trabalho em prol de um sistema maior e bom. Hipocrisia pode ter se tornado meu sobrenome agora, mas e dai esse texto vai ser elogiado por alguns, vaiado por outros, mas na realidade é só um ato desesperado (ou não) de mudar poucas pessoas de verdade.
Indico a vocês o filme Natureza Quase Humana ( Human Nature), beijo a todos meus amados humanos ainda não perdi minha fé em vocês(nós)...Só fiquei puto.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tela Verde

Este homem estava sentado – Uma hora ou duas de atraso, talvez – Naquela cadeira de escritório. O ambiente seco, cinza, exalando fumaça e preocupação. Suas mãos e pernas cruzadas, a balançar, a demonstrar o que não deveriam.
- Senhor, é a sua vez – Disse a mulher insinuante que passara despercebida aos olhos daquele homem. Nervoso. Hesitante. “Eu quero voltar” Pensara mil vezes. Não era mais possível.
Entrou na sala seguinte. Apesar de concentrado em sua suposta função ali, ainda obteve tempo para a sua mente esvair-se por segundos em uma bela paisagem onde esteve uma vez – Montevidéu, Berlim, Paris? Não lembrava ao certo, mas seus pés trilhavam caminhos cuidadosos, direito em frente do esquerdo (tradições arraigadas da infância, inesquecíveis e ainda hoje praticáveis) Para, quem sabe, conseguir alguma sorte extra, e disso ele lembrava bem. Da sua forma esperançosa e falha de segurar-se e assegurar-se numa espécie de destino, para justificar seus passos, sendo eles certos ou errados, apenas para, você sabe, aliviar a tensão da culpa de qualquer passo dado acidentalmente em falso. Tentou, pois, imitar seu costumeiro ritual – Pé direito em frente de pé esquerdo, o caminho até a poltrona da sala principal ia se formando e sua mente voltando ao local.
- Então, senhor – Pigarreou o homem de terno preto, gravata em tom pastel personalizada com um logo – Uma nuvem, uma cruz, um espelho, o oceano, desenhos tribais. Aquele logo parecia funcionar mais como uma tela verde, daquelas da qual se projeta a imagem desejada. E o desejo daquele homem atento se materializava naquela gravata – Uma nuvem, uma cruz, um espelho, o oceano... O que seria afinal?
- Vejo que o senhor se distrai facilmente... Já haviam me dito.
- Desculpe senhor. Não mais o farei – “Mente centralizada, por favor.” Falou para si.
- Não sei o que houve de errado da vez passada. Saiba que ainda há tempo de retratar-se. Porém, tenha cuidado. Você consegue as coisas pelo seu mérito.
- Tudo bem, senhor. – Limitava-se a falar o obvio, mas sua mente se transportara para os seus truques de sorte e sua crença no destino. Que mérito era esse? Negava-se, continuava a negar a culpa de passos em falso.
- Não pensa que eu não sei sobre você. Referências são fáceis para mim. Perceber características é fácil para mim, afinal, esse é o meu trabalho.
- Empáfia. - Falou baixinho o homem hesitante. Foi possível para o melhor trajado ouvi-lo. Disse então em indiretas, as sobrancelhas arqueadas:
- Se vens até mim, é porque sabes da minha capacidade. Mas não te entregues à mão da predestinação, rapaz. Essa é uma filosofia um tanto quanto comodista dos homens. Não seja tão Calvinista, é tudo tão obsoleto nessas tentativas falsas de vocês em justificarem-se. – Parou por um momento o discurso e encheu de ar os pulmões. Fitou o humilde homem, assustado com tamanha coerência em suas palavras, e finalizou:
- Outra chance lhe é dada. Aproveita e não descansa teu corpo e tua mente. Vai atrás do que queres e não te escondas atrás destas falsas ideologias, mitos confortáveis. És homem, raça dita racional. Não seja passional, portanto. Afinal, a vida é só uma não é mesmo? – Meio sorriso e ironia tomavam os mínimos timbres de voz daquele homem. Estendeu imediatamente a sua mão direita ao ser rebatido e indefeso que deixara jogado ali à sua frente, com a mente a vagar nesses oceanos de sorte e destino.

Uma ida a um psicólogo praticante da terapia de choque? Entrevista excepcional de emprego? Encontro com Deus? Viagem no tempo? Preparação para uma outra encarnação? Usem a tela verde, amigos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Sistema gente boa.

"O dia a dia do trabalhador" foi o tema proposto em sala de aula para que dissertássemos. E eis a minha redação, que aqui exerce a função de preencher a falta de comprometimento dos blogueiros para com o blog. O texto está sem o veliko way of life porque eu devia seguir os padrões impostos para uma dissertação. E a objetividade e rapidez com que trato o tema é devido ao limite de linhas. Aqui vai a parada:


Rotina pelo viver

Bilhões de pessoas exercem suas funções dia após dia ao redor do mundo. Algumas com o intuito de ajudar pessoas, outras para enriquecer, dentre outras razões. Contudo, há algo comum a todos os trabalhadores: esses trabalham para sobreviver. E muitas vezes - quase todas - a necessidade de sobreviver consome o trabalhador.
E essa busca constante pela sobrevivência leva as pessoas a seguir uma rotina. Carregar pesadas caixas, gerenciar bancos, levantar muros, dirigir ônibus. Tudo em prol de ganhar dinheiro, gastar, sobreviver e recomeçar o ciclo. Ciclo este que é imposto aos trabalhadores, e trabalho este que nem ao menos a eles pertence.
Ora, pois sobreviver não deveria ser um direto dado a todo ser humano? Deveria. Porém, esta condição só é a ele atribuída se esse fizer parte da cadeia sistemática que move o planeta. E nem sequer o trabalho por ele realizado corresponde ao que é recebido. Afinal esse sistema funciona em favor dos que empregam, e não o contrário.
Logo, conclui-se que o trabalhador é alienado da própria função, ou seja, ele não usufrui de seu maior bem, que é o trabalho.
E esse raciocínio reforça a ideia de que o trabalho consome o sujeito, pois todos os dias as mesmas tarefas são repetidas, deixando-o sem perspectiva que fuja ao seu dia a dia, porque sobreviver é inato a qualquer espécie. E assim o mundo segue: um imenso rebanho humano obrigado a cumprir rotinas. Tudo voltado ao simples desejo de estar vivo.




Beijo nos seus corações. Prometo tentar ser menos preguiçoso.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Amores que Matam Pei Pei Pei

Quantas vezes você estava andando por aí, começou a tocar aquele bregão e passou na sua cabeça aquele pensamento "Mas que porcaria!"? A não ser que você goste de brega (mais especificamente o tecnobrega, que é a modalidade mais famosa atualmente), o ódio é geral quando está rolando essas músicas do povão na rua. Alguns dizem que é um gênero pobre musicalmente, outros reclamam das letras. Tem gente que diz até que deveria ser abolido das rádios! Vamos com calma, amigos. Deixa eu tentar explicar o que acho do brega (e da música, em geral).
Não vou tentar explicar como funciona a cultura do brega, até porque eu cresci longe do gênero (apesar de, como todos nós, já ter ouvido bastante por aí). Mas não foi porque fui criado ouvindo outras músicas que eu vou desmoralizar ou desmerecer quem foi criado ouvindo o brega, e gosta tanto de Príncipe Negro quanto eu gosto de Pink Floyd. A diferença entre ambos os artistas é simples: cultural. Para tal cultura, o Super Pop faz todo o sentido, enquanto, veja bem, Pink Floyd nem da minha cultura é, mas eu gosto bastante. Quem é que é mais lógico, o paraense que tem orgulho de ouvir música paraense ou o paraense que ouve rock inglês? 
Não estou dizendo que devemos "pagar pau" pra tudo que é nacional ou paraense, mas só estou dizendo que há uma cultura e que existem pessoas cultivando ela, queira você ou não. Brega une as pessoas, brega tem um poder social enorme. A diversão de final de semana de boa parte da população "papaxibé" é ouvir um bom tecnobrega curtindo com a galera. Não interessa se a música é toda feita no computador, ou se as letras são toscas, se tem gente que gosta, então é música. Respeite os outros, largue de ser etnocentrista. 
Pô, os Rolling Stones cantam "Start me up, start me up, you make dead man cum", e ainda tem gente que reclama do tecnobrega falar sobre os "Amores que doem, amores que matam". Abram a cabeça, existem milhares, milhões de culturas no mundo e cada uma tem seus adeptos. Qualidade musical existe sim, mas não é isso que define "qual é melhor". A melhor é aquela que você gosta, de qualquer cultura que seja.
Viva o brega

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Lebre de campo

 Albrecht Dürer (1471 - 1528) é um artista germânico da época do renascimento, que fazia uma boa arte apoiada na ideia de reproduzir a natureza fielmente, como no caso dessa obra chamada "Lebre de Campo", de 1502. Dürer utiliza de seu conhecimento anatômico para criar essa imagem da lebre, beirando a perfeição. Essa vontade de chegar ao perfeito foi muito prezada no renascimento. 
Beijo

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Elliott Smith


Bom, devo dizer que eu sou um pouco suspeita para falar do Elliott Smith. Conheci suas músicas ano passado e, acreditem, até hoje não passo um dia sem ouvi-lo. Para os que se chegam mais aos sad songs é uma ótima pedida. Mas vamos lá.

O Elliott é um artista completo: Sua voz é boa e seus arranjos são bons, mas o que me tocou de verdade foram as letras de suas músicas. É impossível deixar de fora a vida do rapaz quando se fala nesse aspecto das suas composições, pois, só para vocês saberem, ele se suicidou em 2003 com duas facadas no peito (isso mesmo, duas!). O seu abuso de álcool, drogas e sua mente claramente confusa e perturbada explicam tal ato. E claro, de mentes como a dele, nós sabemos, é suposto que saiam as maravilhas que tanto apreciamos.

Quanto á como soa: A maioria de suas músicas soa como folk, com uma voz melódica e um violão suave ao fundo. Exemplos disso são seu primeiro e terceiro CD, Roman Candle e Either/or, meus preferidos, por sinal. Do primeiro, dêem prioridade para Last Call e Kiwi Maddog 20/20 (essa última é instrumental. Fechem os olhos e viagem). Do terceiro, Either/or, ouçam Between the Bars, Alameda e Angeles.

E como não poderia deixar de ser, existem CDs que fogem um pouco do “voz e violão” como o XO. Experimental, mas ainda com aquela pitada melancólica que circunda todas as músicas do Elliott.

E só á caráter informativo, ele ficou relativamente conhecido quando fez a trilha sonora do filme O Gênio Indomável de Gus Van Sant, com a música Miss Misery, que concorreu ao oscar como melhor canção de 1997.

Por fim, infelizmente, não tenho propriedade para falar sobre técnica musical, visto que a única coisa que sei tocar no violão é a intro de Come As You Are. Mesmo que, pelo que se sabe, ele fosse competente além de no violão, também no piano, clarinete, baixo, gaita e bateria, acredito que ouvir Elliott Smith seja uma experiência muito mais sensorial, que transcende essa história toda de análise técnica. Existem muitos artistas por aí fazendo ou que fizeram um som como o dele, mas há algo em suas músicas que o diferencia dos demais. Ouçam, vocês não vão se arrepender.

Abaixo os links. Se divirtam, crianças.

Roman Candle
Either/or
XO