segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Tamanho Grande

E a pomba rola voou. Uma vez me falaram que não se pode começar textos assim, mas eu estou experimentando só pra ver a reação de vocês. Não que alguém se importe com essa publicação mais que datada, mas enfim: esse post não tem nada a ver com pomba rolas. Nem com animals nenhum. É, com o erro ortográfico mesmo.

Certo dia ensolarado de verão uma mulher charmosa toda de vermelho ouvia um violão flamenco como trilha sonora de fundo de filme de verão. Aliás, quero que me mostres um filme de verão que tenha uma trilha sonora tão boa quanto essa que estava tocando naquele dia. Era um dia muito especial pra todo mundo, principalmente para a mulher de vermelho. Suas pernas pareciam pela primeira vez fazer parte do seu corpo todo, e não a guiavam, apenas obedeciam-lhe a vontade. E a vontade agora é de ir à sorveteria, encontrar aqueles sabores todos de cor de mel de pimenta e sabor de vermelho azul. É uma loucura só! só de pensar em toda a loucura só.


Sem grandes pretensões, sem grandes amores, a mulher de vermelho ia caminhando, toda incorporada a si mesmo. Isso era tão bom que já valia pelo verão inteiro, e podia tomar aqueles sorvetes todos em pleno inverno só pra lembrar de como foi bom aquele dia.

E isso foi tão bom, me sinto tão satisfeito, que já chega. Beijoca

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Velvet Underground & Nico

O que dizer dessa obra prima, que ainda não foi dito? Essa é a pergunta que me faço toda vez que começo alguma resenha sobre um disco, filme, livro, o que for. O fato é que “Velvet Underground & Nico” é um dos álbuns mais comentados e influentes de todo o sempre, e que reperticurá por muitos anos, enquanto a música pop existir do jeito que a conhecemos. Não é exagero também afirmar que assim que surgiu, o Velvet chacoalhou as estruturas do rock e definiu novos padrões para esse gênero que tanto gostamos. 

Mas você provavelmente já sabia disso ou pelo menos deve ter ouvido algo parecido. Então você ouve o álbum, gosta das músicas, cola um pôster do Lou Reed na parede e... afinal, onde é que está a diferença, o que é que o Velvet tem que os Rolling Stones, os Beatles e o The Who não têm?

O som do Veludo Subterrâneo é especial por vários motivos. Poderia-se dizer que eles são os precursores do punk. Ao longo deste primeiro álbum da banda, as músicas, apesar de algumas serem um pouco longas, a repetição é um fator preponderante. Heroin, por exemplo, tem sete minutos e dois acordes. Lou Reed, John Cale e companhia não se importavam em tocar muito bem, ou tirar um som rebuscado de suas gravações. A qualidade sonora do álbum não é muito boa, chegando inclusive a ser ruim em alguns pontos, como a bateria robótica de “I’m Waiting For The Man” e uma viola maluca que em certos momentos chega a dar dor de cabeça.

Sob a tutela do maluco Andy Warhol, grande (ou não) artista pop dos meados do século XX, os Velvet não se preocupavam em arriscar: em pleno 1967, ano de trips hippies pela Califórnia, a banda abusa de um som psicodélico, que pode soar até gratuito, como muita coisa gravada nessa época. Mas o que seria do rock senão o experimentalismo, a exposição de temas incomuns, não é mesmo? Logo no seu primeiro álbum o grupo trata de chocar o ouvinte acostumado ao bom rock britânico dos anos sessenta, falando sobre drogas, travestis, sexo, tudo isso de um modo como nunca foi dito antes na indústria.

Talvez Velvet Underground & Nico não seja tão impactante hoje, depois de estarmos acostumados a tudo isso. Eu, quando ouvi pelas primeiras vezes, não entendi muito bem o que tinha de especial esse tal “grande álbum, divisor de águas da música pop”. Talvez você nem goste muito – ou você pode virar fã logo de cara, quem sabe. Mas no fim das contas, Velvet é uma banda difícil. É um álbum difícil. E ao mesmo tempo fácil, se você pegar o espírito da coisa.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Gordinho

De certa forma, a cena era cheia de esperança. Um carro velho, mas bem cuidado, correndo atrás de um sol se pondo, de forma tão sutil que aqueles noventa quilômetros por hora eram exagerados se o objetivo era apanhar aquela bola quente. Ao contrário daquela outra bola, que veio nada sutil na direção do nada rápido goleiro gordinho. E acertou, foi na barriga dele, naquele monte de banha suculenta. Deste modo, pôs-se a vomitar copiosamente. Botou pra fora toda a comida que já tinha comido na vida, toda as gordices, gulotices, guloseimas, caramelos, marshmallows. Era uma cena nojenta, tão nojenta que cabe ao leitor que tem noção do que é nojento nesse mundo imaginar o que se passou nesse campinho de futebol.

Não que tenha sido algo importante, tão importante quanto o casamento do tio do gordinho, mas que foi algo que ficou sendo falado por semanas, talvez meses, no bairro, isso foi. A coisa estava preta: mais pra lá do que pra cá. Nem o guarda aguentava mais, tanto é que ele mesmo botou fogo no seu próprio boné. “Vê se pode”, vociferou a Dona Carochinha, “esse disco é muito gente boa mesmo.” Mas não é só de relações efêmeras que a vida se expressa: no esporte, também. Afinal, o prazer físico tambêm não está contido apenas nas relações efêmeras: pode estar também na prática de esportes. E assim como uma noite de prazer pode resultar numa sífilis, uma partida de futebol pode resultar num enjoo.

É claro que essa comparação é absurda. Entre um simples enjoo e uma sífilis, há inúmeras doenças terríveis de diferença. Mas o que seria um detalhe, dentro de muitos outros detalhes, dentro desse contexto de coisas rápidas, fogos que se ascendem e apagam rapidinho, rapidola? Nunca deixe um gordinho jogar bola. Muito menos ser goleiro: afinal, eles não tem charme ao usar o isqueiro. Não que esse gordinho fume, até porque Marlboro Red de ruim virou estrume. Se é de cavalo, eu não sei, a pressa pela perfeição não se olha os dentes. Ah, perdi o embalo, a roupa do rei.

Foi então que ocorreu aquela cena cheia de esperança, o ponto de largada da nossa corrida imaginativa. Talvez não seja nossa, só minha, eu nem minha. Talvez seja como a de todos os outros que nem eu: de ninguém, perdida ao vento, sem nenhuma honra nisso. Sem orgulho, tenho que admitir que estou perdendo o orgulho. Isso é bom, ou não? Acho que pode melhorar muito o nível das coisas por aqui, assim como o carro velho mas bem cuidado pode voltar trazendo novas esperanças para a galera. Sim, porque curupira, matinta e javali são todos da galera. Até o Pitfall.

Um final com esperança talvez seja um bom sinal. Esperança de que o gordinho pare de vomitar ao jogar futebol, esperança de que o carro velho não pife no meio da estrada. Segure na minha mão, vamos andar nessa terra desconhecida, eu prometo, que um dia, tudo vai ficar bem.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Jack Kerouac "On the Road"

Se você curte um negócio meio underground, já deve ter ouvido falar ou de On the Road, ou de Jack Kerouac. A viagem de dois americanos doidões pelos Estados Unidos - retratada nessa obra – representa a geração beat, uma onda de malucos que surgiu lá pela metade do século vinte e influencia toda a cultura pop até hoje. Pode parecer exagero, mas após ler o livro On the Road (cobatizado toscamente de Pé na Estrada) todo tipo de comentário sobre a obra pode fazer sentido. Imagine uma nação conservadora deparar-se com seus jovens lendo um livro sobre vadiagens na américa, o novo continente cheio de esperança. On the Road é, além de tudo, e antes de mais nada, uma desilusão quanto ao sonho americano, um soco na cara na “grande associação de pais e mestres que é a América conservadora”, como diz Eduardo Bueno na introdução da publicação.

Rompe também com vários conceitos da literatura, sendo assim um forte exemplo da subliteratura, seja lá o que isso signifique. Por exemplo: On the Road foi escrito segundo à ideia de “fluxo de consciência”, uma viagem que o autor escreve o livro sem roteiro nenhum, sem nada pronto, apenas sua máquina de escrever, várias folhas de papel manteiga uma colada à outra, sem parar. Jack fez isso, é claro, abastecido de café (e não benzedrina, segundo o Wikipédia afirma). A gramática do livro é, também, uma loucura. Digo, não que esteja errada, o que eu não posso afirmar, mas é de uma certa forma atípica. Vários adjetivos ligados ao mesmo substantivo? Parece só uma bobagem desnecessária, talvez seja, mas quem lê toda essa bobagem e se deixa levar pelo som do jazz americano assim como Jack fez ao longo do processo de criação do livro, não se importa.

Sal Paradise e Dean Moriarty viajam por todo canto, voltam para suas casas, viajam de novo, viajam para mais longe, se perdem por aí. É o ápice da filosofia junkie de ser. Sair por aí, sem lenço e sem documento, em busca de alguma coisa que ninguém sabe bem o que é, fazendo o que der na telha. O livro aborda todo tipo de tema: sexo, maconha,  jazz, brigas, bebedeiras, casamento, filhos, caminhões, bares de beira da estrada. É maravilhoso, é lindo: toda essa liberdade faz você querer também romper com tudo e todos e se jogue nessa desesperança que é a vida na cidade grande. Largar tudo que é falso e cair num mundo onde tudo é mais falso ainda, descaradamente falso.

Apesar de longo, On the Road consegue manter um bom ritmo até o fim e mantêm-se muitas vezes nem por ser realmente bom, ou algo do tipo, mas simplesmente por ser a loucura mais sincera que saiu da cabeça de Jack Kerouac. Talvez não tão sincera, como eu li por aí, mas vamos ser francos: On the Road é mais real do que muita coisa que você lê por aí. Está tudo lá, sem frescura, mas nunca preguiçosamente. Um livro pra curtir, talvez não em português – como eu li – mas de qualquer jeito. Se você gosta pelo menos um pouco de alguma coisa legal, leia. Se você é jovem, leia. Se você ama a vida, do jeito que ela é, ou não, leia. Eu pelo menos, já li. Hehe