quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Elektra “Assassina”

Deixe-me ver se adivinho: você acha que quadrinhos não passam de uma bobagem, e que super-heróis são uma infantilidade sem limites. E você preferia estar lendo algo sobre algum álbum de rock progressivo, ou nem mesmo queria estar nesse blog. Tudo bem, eu te entendo, muitas vezes o que fazem com esta arte (a arte sequencial) é um insulto à inteligência do leitor. E é pra isso que existem pessoas como Frank Miller e Bill Sienkiewicz, o roteirista e desenhista, respectivamente de Elektra: Assasina.

Como já até resenhei uma história do Capitão América, onde aquele estereótipo de super herói incrivelmente justo e bondoso é reforçado, sei que muitas vezes isso é irritante e não condiz com a sociedade em que vivemos hoje. Frank Miller é ciente disso, e faz de seus personagens os mais humanos possíveis, e em posição de verdadeiro poder, como seres com poderes além do comum, sujos e corruptíveis, com várias facetas e personalidade palpável. A história segue linhas simples, o futuro presidente dos Estados Unidos está possuído por um ser maligno chamado A Besta, que comanda a facção terrorista Tentáculo. Elektra toma conhecimento e se alia a um agente da S.H.I.E.L.D para impedir que o candidato não chegue a presidência. Enquanto a história se desenrola, Miller vai criticando as instituições americanas, os políticos moralistas, o progresso científico, a corrupção, controle social, sociedades secretas, positivismo, mensagens subliminares e, muito, muito mais. Você esperava encontrar esses temas dentro de um mero "gibi"?

Sienkiewicz, o desenhista, não faz por menos e esbanja um traço diferente, explosivo, detalhado, e principalmente, surreal. Se eu tivesse que descrever "Elektra" em uma palavra seria esta, surreal. As imagens são um verdadeiro adendo as palavras de Frank Miller. Por exemplo, Garrett, um agente da S.H.I.E.L.D é um machista que vive fumando e resolve tudo no jeito mais masculino possível. Para isso Bill teve a brilhante ideia de desenhá-lo como uma caricatura, com ombros enormes e um rosto exageradamente masculino. Sem falar que ele só usar armas de formato fálico. Outra artimanha de Bill, é desenhar o candidato a presidente Ken Wind com apenas duas faces, uma séria, para demonstrar responsabilidade, e outra sorridente, para demonstrar jovialidade. Pense por si só quem Frank Miller quis satirizar com esse personagem.

Precisa de mais? Diálogos intrincados, personagens uns profundos, outros caricatos, enredo complexo... Vou admitir que para ler esta obra, é necessária uma preparação. Sua narrativa visual é complicada, os balões muitas vezes estão embaralhados, e as ilustrações são muito surrealistas, a ponto de você ficar alguns minutos olhando para desvendar o que está sendo dito ali. Mas tudo isso, meu amigo, não são desleixos dos autores, e sim recursos para enriquecer ainda mais essa complexa obra-prima da arte sequencial. Espero que, se um dia você a leia, rompa os preconceitos com esta forma de arte que, como diz Frank Miller nas entrevistas inclusas, demorou a acontecer. Surreal.
Obs.: se você não curte humor negro, passe longe!

4 comentários:

  1. Finalmente alguém fez uma boa crítica aos quadrinhos... nunca me interessei por essas coisas justamente por motivos dados pelo Pratagy.
    Muito bom, fiquei realmente interessado em ler essa parada. E as ilustrações parecem ser sensacionais =P

    ResponderExcluir
  2. Moleque, que resenha pra lá de legal, gostei muito, principalmente em saber que existe vida inteligente nas revias em quadrinhos, eu que sempre fui fã dos comic marvel e outros, mas nunca me interessei ligar a ficção a realidade, para mim era somente uma fuga do comum... abraços .. Angelo

    ResponderExcluir
  3. Mateus sou sua fã e gosto muito das suas postagens, e mesmo isto não sendo uma jura de amor tenho certeza que tocará seu coração. Com carinho de sua fã... The Fireman.

    ResponderExcluir