De certa forma, a morte de Ivan não lhe trazia nenhuma tristeza ou pesar, e o ambiente genérico de um funeral não parecia lhe abalar tanto quanto aquele outro funeral três meses atrás do qual comparecera. Marcos não era de fato um homem forte, mas nem muito sensível. Tinha uma certa instabilidade de seu líquido emocional interior, aquela substáncia que se move em cores psicodélicas dentro do âmago de quem tem uma certa instabilidade mental e física. Não que essa seja aquelas caractéristicas que segregam pessoas e as abandonam no fundo de quartos com remédios tarja preta, ou mesmo no fundo de manicômios. É apenas uma instabilidade da qual todos os seres humanos uma certa vez na vida experimentam, e que Marcos estava experimentando agora mesmo no funeral de Ivan.
A morte de Ivan, como pode-se perceber, é uma referência literária frajuta que um pobre autor de dezesseis anos preparou às três da manhã, pensando que algo interessante poderia sair daí. Se para o leitor interessa mais a morte de Ivan ou o personagem de Marcos, não importa, pois importante mesmo é se Rebeca irá cortar o fio vermelho ou o fio azul. A vida de trezentas pessoas está em uma possiblidade exata de cinquenta por cento (ou não, se considerarmos a predileção dela por rosa, que é mais próximo do vermelho): se Rebeca saberia desativar a tal da Bomba Atômica.
Mas toda a humanidade será poupada dessa besteira de voo do urubu, menino fumando na privada, velha gorda gritando, almas do inferno no filtro de seu Malboro Red: dessa vez a luz branca guiará todos para o fim do túnel, já que incoerências matinais após cada vírgula serão enterradas bem fundo junto com o caixão de Ivan. E ninguém vai derramar uma lágrima, porque Marcos vai chorar por todo mundo lá no fundo do seu quarto, tomando remédios com tarja de flamingos.
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