quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Jack Kerouac "On the Road"

Se você curte um negócio meio underground, já deve ter ouvido falar ou de On the Road, ou de Jack Kerouac. A viagem de dois americanos doidões pelos Estados Unidos - retratada nessa obra – representa a geração beat, uma onda de malucos que surgiu lá pela metade do século vinte e influencia toda a cultura pop até hoje. Pode parecer exagero, mas após ler o livro On the Road (cobatizado toscamente de Pé na Estrada) todo tipo de comentário sobre a obra pode fazer sentido. Imagine uma nação conservadora deparar-se com seus jovens lendo um livro sobre vadiagens na américa, o novo continente cheio de esperança. On the Road é, além de tudo, e antes de mais nada, uma desilusão quanto ao sonho americano, um soco na cara na “grande associação de pais e mestres que é a América conservadora”, como diz Eduardo Bueno na introdução da publicação.

Rompe também com vários conceitos da literatura, sendo assim um forte exemplo da subliteratura, seja lá o que isso signifique. Por exemplo: On the Road foi escrito segundo à ideia de “fluxo de consciência”, uma viagem que o autor escreve o livro sem roteiro nenhum, sem nada pronto, apenas sua máquina de escrever, várias folhas de papel manteiga uma colada à outra, sem parar. Jack fez isso, é claro, abastecido de café (e não benzedrina, segundo o Wikipédia afirma). A gramática do livro é, também, uma loucura. Digo, não que esteja errada, o que eu não posso afirmar, mas é de uma certa forma atípica. Vários adjetivos ligados ao mesmo substantivo? Parece só uma bobagem desnecessária, talvez seja, mas quem lê toda essa bobagem e se deixa levar pelo som do jazz americano assim como Jack fez ao longo do processo de criação do livro, não se importa.

Sal Paradise e Dean Moriarty viajam por todo canto, voltam para suas casas, viajam de novo, viajam para mais longe, se perdem por aí. É o ápice da filosofia junkie de ser. Sair por aí, sem lenço e sem documento, em busca de alguma coisa que ninguém sabe bem o que é, fazendo o que der na telha. O livro aborda todo tipo de tema: sexo, maconha,  jazz, brigas, bebedeiras, casamento, filhos, caminhões, bares de beira da estrada. É maravilhoso, é lindo: toda essa liberdade faz você querer também romper com tudo e todos e se jogue nessa desesperança que é a vida na cidade grande. Largar tudo que é falso e cair num mundo onde tudo é mais falso ainda, descaradamente falso.

Apesar de longo, On the Road consegue manter um bom ritmo até o fim e mantêm-se muitas vezes nem por ser realmente bom, ou algo do tipo, mas simplesmente por ser a loucura mais sincera que saiu da cabeça de Jack Kerouac. Talvez não tão sincera, como eu li por aí, mas vamos ser francos: On the Road é mais real do que muita coisa que você lê por aí. Está tudo lá, sem frescura, mas nunca preguiçosamente. Um livro pra curtir, talvez não em português – como eu li – mas de qualquer jeito. Se você gosta pelo menos um pouco de alguma coisa legal, leia. Se você é jovem, leia. Se você ama a vida, do jeito que ela é, ou não, leia. Eu pelo menos, já li. Hehe

5 comentários:

  1. Muito bom, Mateus. A gente precisa trocar mais livros haha

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  2. Eu achei, hereticamente, que o Jack tá parecido com o Daniel Craig nessa foto

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  3. Curti a referência à música de Caetano "Alegria, Alegria". Viva la putaria!

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  4. Nada mais sortido que se encantar com uma fantasia psicodélica, a liberdade não se encontra na falta de responsabilidade, nem oportuniza as pessoas a melhorarem sua vida, as drogas e outras viagens, não trazem liberdade somente dor e sofrimento. Então é muito triste que jovens se sintam desiludidos, e acham que através de uma desventura, suas vidas passem a ter sentido, a sociedade serve de equilíbrio aos insensatos e que não possuem fé em seus corações.

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  5. Bia: também achei hehe

    Ramiro: nunca ouvi essa música.

    Anônimo: acho que a liberdade não se dá por meio de "fantasias psicodélicas". É só um outro tipo de prisão, igual à prisão da "sociedade" e do "sistema. Assim como o livro mostra, que toda aquela vida doida na estrada não era nada além do que uma prisão e uma desilusão tão grande quanto à vida regrada. No fim das contas, é uma questão de se acostumar.

    Um abraço!

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