quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Gordinho

De certa forma, a cena era cheia de esperança. Um carro velho, mas bem cuidado, correndo atrás de um sol se pondo, de forma tão sutil que aqueles noventa quilômetros por hora eram exagerados se o objetivo era apanhar aquela bola quente. Ao contrário daquela outra bola, que veio nada sutil na direção do nada rápido goleiro gordinho. E acertou, foi na barriga dele, naquele monte de banha suculenta. Deste modo, pôs-se a vomitar copiosamente. Botou pra fora toda a comida que já tinha comido na vida, toda as gordices, gulotices, guloseimas, caramelos, marshmallows. Era uma cena nojenta, tão nojenta que cabe ao leitor que tem noção do que é nojento nesse mundo imaginar o que se passou nesse campinho de futebol.

Não que tenha sido algo importante, tão importante quanto o casamento do tio do gordinho, mas que foi algo que ficou sendo falado por semanas, talvez meses, no bairro, isso foi. A coisa estava preta: mais pra lá do que pra cá. Nem o guarda aguentava mais, tanto é que ele mesmo botou fogo no seu próprio boné. “Vê se pode”, vociferou a Dona Carochinha, “esse disco é muito gente boa mesmo.” Mas não é só de relações efêmeras que a vida se expressa: no esporte, também. Afinal, o prazer físico tambêm não está contido apenas nas relações efêmeras: pode estar também na prática de esportes. E assim como uma noite de prazer pode resultar numa sífilis, uma partida de futebol pode resultar num enjoo.

É claro que essa comparação é absurda. Entre um simples enjoo e uma sífilis, há inúmeras doenças terríveis de diferença. Mas o que seria um detalhe, dentro de muitos outros detalhes, dentro desse contexto de coisas rápidas, fogos que se ascendem e apagam rapidinho, rapidola? Nunca deixe um gordinho jogar bola. Muito menos ser goleiro: afinal, eles não tem charme ao usar o isqueiro. Não que esse gordinho fume, até porque Marlboro Red de ruim virou estrume. Se é de cavalo, eu não sei, a pressa pela perfeição não se olha os dentes. Ah, perdi o embalo, a roupa do rei.

Foi então que ocorreu aquela cena cheia de esperança, o ponto de largada da nossa corrida imaginativa. Talvez não seja nossa, só minha, eu nem minha. Talvez seja como a de todos os outros que nem eu: de ninguém, perdida ao vento, sem nenhuma honra nisso. Sem orgulho, tenho que admitir que estou perdendo o orgulho. Isso é bom, ou não? Acho que pode melhorar muito o nível das coisas por aqui, assim como o carro velho mas bem cuidado pode voltar trazendo novas esperanças para a galera. Sim, porque curupira, matinta e javali são todos da galera. Até o Pitfall.

Um final com esperança talvez seja um bom sinal. Esperança de que o gordinho pare de vomitar ao jogar futebol, esperança de que o carro velho não pife no meio da estrada. Segure na minha mão, vamos andar nessa terra desconhecida, eu prometo, que um dia, tudo vai ficar bem.

3 comentários:

  1. Hehe, vi o próprio Donnie soltando a frase do fim. Cara, a primeira metade do texto tá muito boa. Pena que as coisas não seguiram o estilo que estás criando pra si. Ou talvez nosso estilo, ou talvez estilo de ninguém. Tanto faz, contando que o Curupira continue a nos ajudar, os javalis continuem a correr e os gordinhos continuem a pegar sífilis num jogo de futebol.

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  2. Tenho que te confessar que não entendi muito bem, hehe. Acho que estás evoluindo no teu estilo, mas infelizmente, não soubestes conduzir muito bem. Perdestes o fio da meada, penso. Quer dizer, não entendi muito bem mesmo, então deixa pra lá.
    E toma mais cuidado com a ortografia. Presta atenção, por exemplo, que ascender - que vem de ascensão - é diferente de acender. A menos que a intenção tenha sido essa mesma, o que para um texto diferente desses não é impossível.
    Abraços.

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  3. seu apanhador no campo de açai.

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