domingo, 21 de outubro de 2012

Grizzly Bear "Shields"

Não, o Veliko não se tornou um blog hype que faz resenhas porcas como muitos por aí. É só que, quando a gente ouve um álbum muito bacana, não tem como não sair falando por aí sobre o que ouviu. E é isso que venho fazer aqui, simplesmente. Mas sim, Shields é um álbum recente de uma banda novinha que me surpreendeu bastante. Muitos taxam o Grizzly Bear como folk. Eu não acredito nisso. Sempre desconfiei desses rótulos que a mídia alternativa impõe sobre algumas bandas. Geralmente, é pompa demais pra coisa pouca, e diminutivos para obras-primas. Shields é uma obra-prima. Não do folk. Da música contemporânea - ou pelo menos desse ano, vamos lá!

Aqui você não vai encontrar o indie manjado que já deu o que tinha de dar nos últimos anos. Logo quando iniciamos a audição do disco, isso fica bem claro. A banda apresenta uma fineza instrumental de primeira classe, a batida da bateria nos leva de um lado pro outro, aliados às guitarras fantásticas, bem simplesinhas. E entram os vocais. Desculpem-me mas não sei identificar quem é o vocalista em cada música, já que dois integrantes se revezam no microfone durante o álbum e eu não sei os diferenciar. Mas ah, os vocais. Arrastados, sentidos. Você sente quem quer que esteja cantando ali, está cantando de dentro pra fora. As letras, com seu lirismo dramático, ajudam a compor a atmosfera. E as seguintes palavras fecham a primeira faixa, Sleeping Ute, dando-nos um belo exemplo dessa vibe: And I live to see your face/
And I hate to see you go / But I know no other way / Than straight on out the door.

A beleza real vem agora. Com a linda canção Speak In Rounds o quarteto nova-iorquino nos mostra todo o seu poder. Inicia de leve, a bateria entregando uma batida firme, o violão entra e a música vai tomando grandeza. Até que desabrocha em um lindo refrão com guitarras em phaser e uma levada deliciosa que envolve o ouvinte em um encanto mágico que só o Grizzly Bear pode fazer. Pronto, você já está cativado. Agora é só curtir as outras pérolas que estão guardadas pra você no álbum. Mas antes, por que não um instrumental rápido de um minuto, só pra esquecer da canção anterior e descobrir uma mais linda ainda? Yet Again é uma história de amor: a carga emocional fica cada mais pesada e o Urso Cinzento se liberta em um refrão lindo, delicioso, gostoso, maravilhoso, tudo isso e mais um pouco. É bonito ver como por baixo da delicadeza, do instrumental minimalista, há uma camada de leveza pop que pode explicar o porquê desse som ser tão bom.


O piano dedilha enquanto o vocalista executa uma linha melódica à Thom Yorke numa balada simples, The Hunt, boa de ouvir quando estamos naquele momento melancólico. A sonoridade começa a ficar mais arrastada, o álbum perde a cadência e você se encontra em um mar, sozinho. Até seria maravilhoso ficar eternamente boiando nessa água fria. Mas uma mão estendida vem ao nosso encontro. Nos leva a uma onda de otimismo, não dá pra ficar nessa tristeza pra sempre. E mais um ponto positivo pro álbum: sua consistência não é homogênea, seu som nos leva mas depois nos trás de volta também. A Simple Answer é exatamente isso: a melodia vai crescendo, a levada vai te levando junto com ela. Com certeza um dos pontos do álbum, especialmente no fim da música, quando ouvimos "No wrong or right /Just do whatever you like", parece uma libertação de espírito que acontece em cadência lenta, até nos abandonar e deixar-nos andar com as próprias pernas. Você consegue?

Se sim, pode aproveitar uma das maiores viagens atmosféricas do disco: What's Wrong. Talvez seja uma canção sem muito apelo como as outras, alguns podem a considerar mais experimental. Talvez. É o tipo de canção que se encaixa perfeitamente em um certo momento, e que novamente me remete a Radiohead. Os teclados surgem por trás enquanto a bateria, pra mim um ponto alto da banda, continua com sua batida hipnótica como faz em praticamente todo o disco. Como já é de praxe, o piano dedilha belas notas em um fim tristinho, todo solitário, até que alguns metais entram pra finalizar a canção. O que What's Wrong não tem de apelo, Gun-Shy é o grude em forma de música. Os dois vocalistas principais ficam se revezando deliciosamente em uma melodia pop até o talo, mas que não tira a delicadeza do grupo. Pelo contrário: só acrescenta ao que já tem de bonito e depressivo ali. Afinal, tudo que é excessivamente bonito nos trás um pouco de melancolia, não é verdade? Talvez essa oitava faixa traga um pouco desse sentimento ao ouvinte. É tão gostosa, viciante, a poesia sussurrada nos nossos ouvidos nos derrete ainda mais e querer ouvir a mesma música dez mil vezes. Bom, eu fiz isso.


Os caras são tão boiolas que incluem até um cello no início de Half Gate, a penúltima música do álbum. Nada que você já não esteja acostumado se está levando Shields a sério: é uma balada simples que explode em um momento sombrio que nos dá dúvidas se estamos falando de algo bom ou ruim. Mas como os Grizzly Bears não são bestas, eles logo abrem a cortina do seu quarto e trazem a luz do sol de volta pra sua vida. Esse vai-e-volta, entra-e-sai dos momentos ensolarados e sombrios é que fazem a audição do disco ser tormentosa. Você não consegue se decidir se é pra triste ou satisfeito. Ok, você ainda tem sete minutos pra se decidir enquanto ouve a belíssima Sun In Your Eyes (aliás, a banda não tem medo de se alongar enquanto expõe sua depressão). 

É um som intimista, mas que não fica preso ao artista. Pode - e deve - tocar o ouvinte. Não precisa desvelar muitos cobertores pra chegar na essência do Grizzly Bear: eles te entregam a fórmula rápido. É só relaxar, pensar na morte da bezerra, aceitar o som do piano, da bateria, do baixo, da guitarra. E principalmente da voz. Pode crer que a banda fez esse álbum com muito carinho e esmero, todo detalhe é pouco ao que compõe a sonoridade inteira de Shields. Um disco pra ouvir com atenção, diferente de muita besteira comercial que podemos chamar de indie rock atualmente.

4 comentários:

  1. Pratagay ainda posta nisto aqui haha

    ResponderExcluir
  2. Calma mano ainda vai rolar post sim com certeza

    ResponderExcluir
  3. Ouve o disco "Horny of Plenty" e "Yellow House" deles vais comprovar o que já achas, tens toda razão quando dizes que eles pensam fora da caixa, porque esse é o papo da banda mesmo, também não acho que seja folk, na verdade a gente poderia até chamar isso de down tempo, mas eu prefiro lembrar que parece com mogwai e um tiquinho de The shins, acho que se trata de um som totalmente experimental isso sim. é uma grande banda, que precisa de muitas audições pra ser compreendida. Adorei tua forma de escrever, me identifiquei mesmo, gostei da forma como descreves as músicas, isso é essencial.

    ResponderExcluir