Nada melhor do que ouvir música de manhã, ainda mais quando é um lindo álbum do Caetano Veloso. O “Álbum Branco” dele, nada tem a ver com o famoso “White Album” dos Beatles, mas se a questão é qualidade musical, os dois transbordam disso. Depois de passar um tempo no xadrez, Velô resolveu gravar junto com o ilustre Gilberto Gil (no violão) algumas músicas num estudiozinho de Salvador, onde estava confinado após alguns problemas com o nosso governo totalitário da época. Nada melhor para quem faz arte, um pouco de contrariedade... E Caetano escreveu algumas de suas melhores músicas em uma obra de arte completa, que vai fazer você sorrir no fim.
A dupla dinâmica |
Após esta música, vem uma canção em inglês, “The Empty Boat”, que fala de dois temas que me fascinam e se repetem ao longo do álbum: solidão e o mar. É como se Caetano estivesse deslocado, expressando seu desolamento, e talvez o de outras pessoas, “from the east to the west”. Engraçado como a poesia de Veloso não perde a força quando é escrita em inglês (apesar de ser mais simples, o que casa com sua fluência na língua e dá um efeito interessante, na minha opinião). A próxima faixa, “Marinheiro Só”, dá continuidade ao que acredito ser o “conceito” do álbum, misturando ainda uma canção popular. Muito bacana.
“Lost In The Paradise”, mais uma letra em inglês (que eu não entendo muito bem), é mais uma das boas do disco. O animado hit carnavalesco “Atrás do Trio Elétrico” é uma das poucas músicas felizes da obra, que acabaria destoando do resto se não fosse a roupagem de Duprat que traz a guitarra distorcida pirando e uma sessão rítmica afiada. Talvez fosse mais sensato ir logo para “Os Argonautas”, linda música em que Caetano parafraseia um general romano (corrija-me se eu estiver incorreto) com a frase “Navegar é preciso, viver não é preciso”, que em português toma uma dimensão ainda mais reflexiva (repito, corrija-me se eu estiver incorreto).
Se não podia ficar melhor, temos na abertura do segundo lado a bela (e parnasiana?) música de Chico Buarque, “Carolina”. E Caetano resolve cantar em italiano em “Cambalache”, em uma letra que só consigo entender a parte que ele fala de Ringo Starr e John Lennon. “Não Identificado”, na minha singela opinião, é a música mais bonita do álbum e uma das mais bonitas já escritas em todos os tempos! (Olha minha pretensiosidade). Se existem tantas canções de amor por aí, para quem escreve sobre amor a repetição deve ser evitada. E é justamente o que essa música traz, uma novidade no jeito de se falar de amor, ironicamente falando de falar de amor. Simplesmente linda e tocante, me arrepio todo quando ouço (e se você tem coração, provavelmente vai se arrepiar também!). De tabela, mais uma balada de amor em “Chuvas de Verão”, que se trata de trazer a dor no peito, de amores do passado.. A tropicália se manifesta na faixa “Acrílico”, interessante, cinematográfica, a mais experimental do álbum (talvez a única).
Caetano poderia navegar o mundo inteiro, os setes mares, ir a todos os cantos do mundo, mas ainda assim se sentiria sozinho em sessenta nove. E graças a Deus ele resolveu gravar alguma coisa, pra me deixar feliz em manhãs de sol (ou chuva). É lindo como seres humanos sentem e cantam, tudo numa coisa só, e fazem outros seres humanos cantarem junto. Para terminar, na última faixa, “Alfomega”, temos um desafio a nossa racionalidade... Afinal, nós não sabemos nada sobre a morte. Nem o próprio Caetano. Justamente!
Desculpem-me se essa resenha ficou grande, ainda maior do que a anterior, mas esse álbum merece. Um abraço!
muito bom! tem link para download?
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