sexta-feira, 18 de maio de 2012

Caetano Veloso "Álbum Branco"


Nada melhor do que ouvir música de manhã, ainda mais quando é um lindo álbum do Caetano Veloso. O “Álbum Branco” dele, nada tem a ver com o famoso “White Album” dos Beatles, mas se a questão é qualidade musical, os dois transbordam disso. Depois de passar um tempo no xadrez, Velô resolveu gravar junto com o ilustre Gilberto Gil (no violão) algumas músicas num estudiozinho de Salvador, onde estava confinado após alguns problemas com o nosso governo totalitário da época. Nada melhor para quem faz arte, um pouco de contrariedade... E Caetano escreveu algumas de suas melhores músicas em uma obra de arte completa, que vai fazer você sorrir no fim.


A dupla dinâmica
Abrindo com “Irene” de uma forma inusitada, quando a música pára do nada pro Caetano falar naquele sotaque de bahiano que o Gilberto tinha esquecido de cantar... E a música começa de novo. Um fato curioso, que não sei se foi proposital ou não, mas ficou legal. A música em si é muito bonita, com a orquestragem de Rogério Duprat dando o acabamento na bela poesia que fala sobre uma mulher, e a saudade do eu lírico por ela. Será Caetano na cadeia com saudade de sua irmã?


Após esta música, vem uma canção em inglês, “The Empty Boat”, que fala de dois temas que me fascinam e se repetem ao longo do álbum: solidão e o mar. É como se Caetano estivesse deslocado, expressando seu desolamento, e talvez o de outras pessoas, “from the east to the west”. Engraçado como a poesia de Veloso não perde a força quando é escrita em inglês (apesar de ser mais simples, o que casa com sua fluência na língua e dá um efeito interessante, na minha opinião). A próxima faixa, “Marinheiro Só”, dá continuidade ao que acredito ser o “conceito” do álbum, misturando ainda uma canção popular. Muito bacana.


“Lost In The Paradise”, mais uma letra em inglês (que eu não entendo muito bem), é mais uma das boas do disco. O animado hit carnavalesco “Atrás do Trio Elétrico” é uma das poucas músicas felizes da obra, que acabaria destoando do resto se não fosse a roupagem de Duprat que traz a guitarra distorcida pirando e uma sessão rítmica afiada. Talvez fosse mais sensato ir logo para “Os Argonautas”, linda música em que Caetano parafraseia um general romano (corrija-me se eu estiver incorreto) com a frase “Navegar é preciso, viver não é preciso”, que em português toma uma dimensão ainda mais reflexiva (repito, corrija-me se eu estiver incorreto).


Se não podia ficar melhor, temos na abertura do segundo lado a bela (e parnasiana?) música de Chico Buarque, “Carolina”. E Caetano resolve cantar em italiano em “Cambalache”, em uma letra que só consigo entender a parte que ele fala de Ringo Starr e John Lennon. “Não Identificado”, na minha singela opinião, é a música mais bonita do álbum e uma das mais bonitas já escritas em todos os tempos! (Olha minha pretensiosidade). Se existem tantas canções de amor por aí, para quem escreve sobre amor a repetição deve ser evitada. E é justamente o que essa música traz, uma novidade no jeito de se falar de amor, ironicamente falando de falar de amor. Simplesmente linda e tocante, me arrepio todo quando ouço (e se você tem coração, provavelmente vai se arrepiar também!). De tabela, mais uma balada de amor em “Chuvas de Verão”, que se trata de trazer a dor no peito, de amores do passado.. A tropicália se manifesta na faixa “Acrílico”, interessante, cinematográfica, a mais experimental do álbum (talvez a única).


Caetano poderia navegar o mundo inteiro, os setes mares, ir a todos os cantos do mundo, mas ainda assim se sentiria sozinho em sessenta nove. E graças a Deus ele resolveu gravar alguma coisa, pra me deixar feliz em manhãs de sol (ou chuva). É lindo como seres humanos sentem e cantam, tudo numa coisa só, e fazem outros seres humanos cantarem junto. Para terminar, na última faixa, “Alfomega”, temos um desafio a nossa racionalidade... Afinal, nós não sabemos nada sobre a morte. Nem o próprio Caetano. Justamente!


Desculpem-me se essa resenha ficou grande, ainda maior do que a anterior, mas esse álbum merece. Um abraço!

domingo, 13 de maio de 2012

Os Mutantes "Jardim Elétrico"


Os Mutantes são uma banda muito conceituada no Brasil e no mundo, seja pela comparação aos Beatles (desmedida em certo ponto) ou à importância de suas composições que ainda vigora até hoje. Com sua discografia em mãos, resolvi conhecer um pouco mais a banda e fui ouvir o disco “Jardim Elétrico”. Se você já conhece a sonoridade do grupo, não vai se surpreender com o álbum: é psicodelia e deboche puro. 


Os Mutantes em Paris, onde gravaram o álbum em 71
A primeira faixa, “Top Top”, já entra com um instrumental enlouquecido (a bateria, principalmente, é bem frenética), e uns vocais agudos bem irritantes. A letra, fala de amor, como quase todas as poesias da obra. Aí depois o disco dá uma desacelerada, com “Benvinda”, que não é nada demais. Uma música realmente bonita e bem-feita, que possui um espírito muito Beatles, é “Technicolor”. Os instrumentos parecem estar sendo tocados pelo próprio Fab Four (essa foi a impressão que me deu), e o arranjo vai fazer você pirar, com certeza, é um dos momentos altos de inspiração dos Mutantes no álbum. 


“El Justiciero” é outra canção que merece destaque, com letra em inglês e em espanhol e um violão de Sérgio Dias de arrepiar, é uma música de detalhes e esmero, revelando que a veia latina dos paulistas é ainda mais abrangente. Há ainda outras faixas divertidas como “It’s Very Nice Pra Xuxu” (com referências a outras músicas dos Mutantes) e “Portugal de Navio”. De volta a uma vibe meio Beatles, temos “Vírginia”, que é uma bela canção de amor, com um bonito solo de corneta (ou algo parecido).


A capa do álbum, toda sessentista!
De resto, Os Mutantes garantem muita psicodelia “em tecnicolor” com seu instrumental afiado na faixa “Jardim Elétrico”. Um fato curioso é que a banda parecia muito preocupada com a sonoridade do álbum, buscando recursos eletrônicos comparáveis aos discos mais modernos da época, com viagens em “3D” e um som de guitarra bem ousado. Um dos momentos mais bonitos da guitarra é na música “Lady, Lady”, com um solo lento, poucas notas, bem no sentimento. Ainda possui uma flauta inusitada. Aliás, alguém reparou alguma semelhança entre o início de “Saravá” e a música “Billy Jean”, do Michael Jackson?


Por fim, em inglês, a música “Baby”, que ficou famosa na voz de Gal Costa no álbum “Tropicália ou Panis Et Circenses”. Talvez a poesia não fique tão forte quanto em português, com as rimas doidas de “margarina, gasolina, Carolina”, mas ainda está boa na voz de Rita Lee, que é uma bela intérprete. No fim das contas, o disco “Jardim Elétrico” deixa muito satisfeito quem esperava boa música, seja ela brasileira ou inglesa, já que para os Mutantes não há fronteiras. Na mistureba que é a sonoridade da banda, vale tudo! E vale muito a pena conhecer mais esse álbum da banda.

Alguns links de outros blogs para você baixar o álbum: Clique aquiaqui ou aqui!