A música "Killing An Arab" do grupo The Cure, é inspirada no livro |
O protagonista chama-se Sr. Meursault e é um daqueles personagens peculiares (perturbados, talvez?) que permitem-se a identificação se você é um deles - ou se tem um pouquinho deles aí dentro, o que provavelmente é verdade. Logo no primeiro parágrafo da narração, que é em primeira pessoa, percebemos que o tal Sr. Meursault é um sujeito indiferente ao mundo, e que tem um certo modo especial de lidar com as coisas: até mesmo a morte de sua mãe não parece lhe abalar. E a sua personalidade apática só se reafirma ao decorrer da primeira parte da história, que é pontuada com um desfecho trágico.
A segunda parte funciona como uma prova à pessoa de Sr. Meursault, que se vê diante de uma grande reviravolta na sua costumeira rotina. E aí a obra me lembrou o último livro que li, não por serem parecidos, mas por levantarem uma mesma questão: a culpa. O livro no caso é o já mencionado "O Processo". Vale ressaltar, com muito cuidado, que são livros diferentes que tratam de assuntos diferentes, mas que na minha opinião me ajudaram a pensar nesse negócio de culpa, justiça, responsabilidade, justamente por terem esses pontos em comum (mas apesar de nem sempre demonstrarem o mesmo posicionamento quanto a estes).
Caminhando para um final pessimista (ou otimista, depende de você), o livro demonstra como até mesmo um ser lunático, interpretado como um alienado em um ambiente normal, tem tudo a ver com a realidade. Afinal, como diz o livro em suas últimas páginas, em uma incrível epifania do Sr. Meursault, todo mundo é culpado do mesmo jeito, e condenado à mesma sentença. E se o mundo é indiferente, podemos pelo menos nos confortar em sermos indiferentes também.
Um beijo para todos e mais uma incrível recomendação literária do seu querido Mateus Pratagy s2