sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Led Zeppelin ''Led Zeppelin''


O que dizer de um album como "Led Zeppelin"? Bem, este álbum pode ser considerado uma síntese do que é a banda.Pense em tudo que você já ouviu referente aos anos sessenta, depois escute esta obra, logo você irá perceber que o Led é totalmente diferente de tudo aquilo que veio atrás dele.Com seus vocais selvagens, uma bateria e um baixo perfeitamente conectados e uma guitarra que é pura energia este álbum vai mostrar-lhe o que é o rock'n'roll de verdade. Abrimos o disco com uma porrada seca, "Good Times Bad Times" é uma forma genial de se começar uma obra (e uma banda), com uma letra tipica do blues, guitarra Berrante e um baixo e batera alucinantes essa canção vai fazer você pirar o cabeção.
Depois de uma bela balada (Baby I Gonna Leave You), é possível escutar uma das músicas mais psicodélicas que o Led fez.
Outra vez com o espírito sulista negro dos estado unidos (Blues), este som consegue fazer com que você se sinta alto, aéreo,o ritmo vai e vem, como uma deliciosa maré de notas.Agora que você está tonto e confuso pela maré, vem outra porrada seca, mais psicodélica ainda, que começa rasteira e intimidante, até mesmo sinistra, e com a progressão do som torna-se uma viagem no tempo/espaço e no fim explode num grande big bang cósmico e caótico ''Dazed and Confused'' consegue mostrar o nivel e a qualidade do conjunto."Your Time Is Gonna Come" é uma boa maneira de se recuperar da ressaca das músicas anteriores, com acordes de violão que o façam se sentir no campo de um grande gramado em um dia ensolarado, que usa uma abordagem literal onde o eu-lírico fala à amada que o abandonou, "Tua hora vai chegar, sacana!".
Mais uma música que demonstra o caráter Led Zeppelin, que pode ser pesado e leve ao mesmo tempo, um verdadeiro zepelim de chumbo!"Black Mountain Side" é uma música instrumental que mostra as habilidades de Jimmy Page como compositor, um folk belíssimo, que faz juz ao titulo de Page, de ser o mago da guitarra. "Communication Breakdown" é uma porrada seca ao estilo ''Strick-Nike'' que vai te fazer ficar de boca aberta. É um tema dos anos cinquenta, mas com uma nova roupagem, o que é exatamente a proposta do Led Zeppelin.
Pra mostrar como a banda era ligada e recebia grandes influências do blues americano, principalmente pela Robert Plant (hoje considerado um dos maiores especialistas e colecionador do estilo) "I Can't Quit You Baby" foi criada e executada com notoriedade pelo grupo que não deixou nada a desejar.
Para finalizar essa obra-prima, nada mais nada menos que "How Many More Times", contendo um solo de guitarra enigmático e contagiante (atente para o fim com o vocal virtuoso,e prove do que Plant é capaz)
Com certeza esse Disco vai te deixar com gostinho de quero mais e escutaresse álbum ininterruptamente.
Este disco é uma medida perfeita pra você conhecer Led Zeppelin, mas não cometa o pecado de ficar só nesse, corra atrás desta que pra mim é uma das maiores bandas da história.
Pode confiar, esse aí é ''Strick-Nike''!!!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Art Spiegelman "Maus"

São poucas as obras que conquistam o leitor com tão pouco. "Tão pouco", entre aspas, porque apesar da linguagem verbal ser simples, e as ilustrações serem mais ainda, Artie usa e abusa dessa simplicidade para detalhar como nunca antes a jornada dos judeus ao campo de extermínio Auschwitz. 
Provavelmente você deve estar acostumado com toda aquela aura de "épico" quando se trata de Segunda Guerra Mundial, onde o Hitler é um grande demônio ao modo de Sauron (Senhor dos Anéis) e os americanos são verdadeiros heróis que dão suas vidas ao bem do mundo (haha, vamos esquecer que a Rússia teve grande importância na vitória dos Aliados). Enquanto isso, os Judeus morrem indiferentemente e são tratados como um amontoado de carne que só faz esperar pra tomar um banho em chuveiros que derramam Zyklon B. Em Maus, esqueça toda essa besteira, e tome partido de uma visão humana e realista do que realmente foi esse massacre etnocida.
Primeiro que aqui você não vai encontrar seres humanos, apenas animais representando cada gênero da guerra: gatos para nazistas, ratos para judeus, cachorros para os americanos, sapos para os franceses, peixes para os ingleses, e assim vai. Mas não se engane que esse recurso visual serve à fins caricatos. Os personagens são absurdamente humanos. Os diálogos são delicados, eu pelo menos não encontrei nenhuma passagem onde algum personagem falou apenas para "engrandecer" a história, tudo lá é absolutamente verídico e obedece as linhas da vida real. E é incrível como as linhas da vida real se encaixam facilmente nas linhas da arte sequencial. É coisa de louco mesmo.
O enredo conta a jornada de Vladek, um judeu que é capturado pelos nazistas e faz de tudo pra sobreviver. Na verdade o quadrinho conta duas histórias, a de Art Spiegelman entrevistando seu pai (Vladek) e confeccionando o quadrinho, e a história de Vladek na época da segunda guerra. O que deixa muito interessante o livro, podendo citar uma passagem onde Artie faz de quadrinhos seu bloqueio criativo para fazer mais quadrinhos, devido a fama que sua obra obteve e as propostas de mais dinheiro.
Se você é um entusiasta da Segunda Guerra, leia, e lhe dou a certeza de esquecer toda a baboseira da qual você já leu/viu/jogou antes. Se você não se interessa pelo assunto, mesmo assim leia, e contemple uma verdadeira aula de como contar histórias, seja em quadrinhos, ou em qualquer outro meio de comunicação. Mas não deixe passar a oportunidade de ler um dos melhores quadrinhos de todos tempos. 
Obs.: note o poder do preto & branco, hehe.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Stanley Kubrick “Laranja Mecânica”



Prepare-se!
Tirem as crianças da sala! O texto hoje é sobre um filme para maiores de dezoito anos: O incrível “Laranja Mecânica”, do diretor vanguardista Stanley Kubrick. Embora não tenha muita coisa de pornográfico – é bom deixar claro – esse filme é ultra-violento, o que explica sua censura. Nas palavras do próprio protagonista Alex, um verdadeiro “horrorshow”. A responsabilidade de ver o filme (e não ter um ataque cardíaco, como quase aconteceu comigo) é sua.
Justamente por sua violência, “Laranja Mecânica” foi uma obra que nem todo mundo entendeu. No Reino Unido, seu país de origem, foi rejeitado pelo público. Irritado, Kubrick resolveu tirar seu próprio filme de cartaz. “Laranja...” só foi posto lá de volta depois de sua morte.

Como bom (ou não) resenhista que sou, começarei pelos aspectos positivos. Quer dizer, não que tenha visto aspectos negativos, como não vi. Algo a ser realmente destacado nesse filme é a atuação de Malcolm McDowell, na pele do jovem Alexander DeLarger. O anti-herói, um marginal de
classe média, que rouba, estupra e mata, deixa clara a genialidade do argumentador Anthony Burgess e o já citado Kubrick, se olharmos com atenção para as grandes críticas que estão por trás dessa obra.
Na verdade, não só este personagem, como também seus pais, sua gangue, e seu psicólogo configuram o quadro que precisa ser compreendido. Quer dizer, seus fatores, suas causas, a pergunta que fica na cabeça de muita gente. Por que um jovem de classe média se tornaria um marginal? Pior do que isso, por que ele se tornaria um marginal com outros jovens de classe média? Hoje, pode parecer corriqueiro, mas há algum tempo atrás, soaria muito bizarro. Será que seus pais não lhe dão o carinho necessário? Lhe falta alguma coisa? Muita gente diria que, na verdade, lhe faltam limites. Eu diria que isso se deve, em grande parte, à


Alex e seus "druguinhos".
violência que se tornou nossa sociedade.
Largando um pouco a análise social que envolve o filme, e voltando para a obra em si, contarei um pouco do enredo, tendo cuidado pra não deixar seu desenrolar à mostra. Alex e seus “drugues” (uma gíria inventada para “amigos”) são uma gangue que saem à noite para plantar o mal. Em um certo ponto, por exemplo, eles espancam um velho mendigo que lhes pedem alguns trocados. Alex também se mostra (assim como eu) um verdadeiro fascinado pela obra de Ludwig Van Beethoven, sendo a nona sua sinfonia preferida.
Agora passando para a parte da fotografia, diria a vocês que nunca vi um futurismo setentista que se aproximou tanto com o resultado que temos hoje. O visual psicodélico do filme deixa qualquer um com os olhos vidrados na tela. Quer dizer, não é só psicodélico. É extremamente rico, e assim como o resto do filme, tem um conteúdo expressivo. Desde a “obra de arte” da dona do Spa, até as máscaras e o figurino usados pela gangue de Alex, é tudo indescritível. E a trilha sonora não fica atrás. Além de ser regada de muito do nosso velho Ludwig Van, trás como tema principal uma intrigante canção instrumental.
“Laranja...” é um filme que trás muitas críticas escondidas. Não estou brincando, é muita coisa

"Got milk?"
mesmo! Das relevantes que encontrei, também critica a hipocrisia e o egoísmo próprios do ser humano. Mas não pára por aí. “Laranja...” tem uma grande crítica ao método do condicionamento clássico. Quer dizer pavlovianismo, que está historicamente ligado ao behaviorismo.
Isso se desencadeia com a aparição no filme do “tratamento Ludovico”. No caso, um tratamento onde a pessoa fica sendo condicionada a não ter opinião própria: Se você, por exemplo, vê imagens de biscoitos de maisena passando pelos reflexos causados por esse tratamento, enjoará toda a vez que ver um biscoito desse tipo.

Finalizando minha postagem hoje, digo a vocês que nunca vi um filme que combina tão bem surrealismo e psicodelia com bom conteúdo e críticas ácidas. “A Clockwork Orange” é um filme que mudou não só o meu jeito de ver as coisas, como também de toda a equipe do Veliko Valovi. Tenho certeza de que vai mudar o seu também.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Aldous Huxley “Admirável Mundo Novo”

Sempre ocorre daquele êxtase ao findar a leitura de uma obra de arte como essa, e nesses casos, geralmente, ocorre parcialidade numa resenha, por exemplo. Então, se vocês me permitem, serei parcial perante a este livro, que é uma das melhores coisas que me ocorreram até hoje. Atualmente venho simpatizando com temas como progresso científico, positivismo, behaviorismo e afins. Decerto este livro caiu como uma luva, pois aborda entre outros esses temas.

Em linhas gerais Sr. Huxley aborda uma sociedade onde o progresso científico cresce desenfreado e se chegou num ponto onde não há mais tristeza, a constante busca pela felicidade foi finalmente alcançada, a preço das individualidades de seus componentes. Inicialmente, é uma grande crítica a esta sociedade, sendo necessária apenas sua descrição, para que o próprio leitor compare com a sua atual e a repudie assim que notar as diferenças. Mas e quando é possível notar as semelhanças? E que alarmantemente, crescem em número e tamanho cada dia que se passa no nosso século XXI? Por exemplo, hoje há grande consumo de drogas, promiscuidade sexual desde as idades mais jovens, apoio a legalização do aborto, só pra citar alguns. Decidi não me aprofundar muito na descrição desta civilização, acho que perderia muito da graça do livro, descobrir passo a passo a degradação do homem como conhecemos hoje. Quero também que, quando você ler, amigo, reflita. Reflita se, este mundo em que vivemos hoje, não está rumando para um terrível caminho de "felicidade". Qual seria mesmo o preço da felicidade?

Será mesmo que o cristianismo, que a monogamia, que o tabu do sexo na infância seja mesmo prejudicial à visão do homem hoje? São questões levantadas pelo livro. Será mesmo que o famoso "ficar", comum dos jovens de hoje, é normal, tranquilo? Todos são de todos? Usar drogas como válvula de escape de seus problemas é corriqueiro, e necessário? Leia o livro e veja como será a sociedade daqui um tempo se você respondeu "sim" para estas perguntas. Verdade que não é possível acertar em cheio todas as previsões feitas pelo livro, mas Aldous se esforça, se você considerar que o livro foi escrito em 1932.

Como já disse não vou me prolongar no enredo, e acho que o resumo acima é bastante esclarecedor, também acho que não preciso falar sobre todos os tópicos ridicularizados pelo autor. Gostaria de retirar algum trecho do livro, talvez algum dos de Shakespeare utilizados, mas, não será possível devido a enorme quantidade e qualidade deles espalhados pela obra, principalmente no final, onde há um excitante debate. Não dispense umas aulas gente boa de filosofia antes da leitura, claro. E, finalmente, não se esqueça que todos somos corruptíveis, então cuidado quando ver que seus ideiais foram usurpados, pois corra para resgatá-los, antes de levar um soco na cara e acordar pra vida.

Selo de qualidade Coisa Fina.

sábado, 16 de outubro de 2010

Liquid Tension Experiment

Sabe aquele post ousado que eu prometi em um certo comentário a pouco tempo? Não vai ser dessa vez, ainda. Mas aguardem uma possível “dobradinha gente boa”. Quer dizer, uma postagem dupla, onde eu e o dono do blog, Mateus Pratagy, discutiremos sobre behaviorismo e pavlovianismo.
Barbudos que fazem som cósmico.
Novamente, vou escrever sobre música (ultimamente, essa tem sido minha verdadeira motivação pra viver). Mas, ao contrário do que tenho feito ultimamente, venho hoje para resenhar uma banda, e não um álbum.
Ouvi o primeiro dos dois discos do Liquid Tension Experiment um dia desses, e simplesmente me apaixonei. Para quem não sabe, LTE é um supergrupo formado por Mike Portnoy, John Petrucci, Jordan Rudess, todos do Dream Theater, e mais Tony Levin, conhecido por seu trabalho no King Crimson. E o que eles fazem? Um bom e puro metal progressivo, claro.
Não pense, no entanto, que a banda é cheia dos clichês que marcam o metal, como a agressividade, muitas vezes, descabida. Não pense também que é música muito embranquecida, cheia de virtuosidade e nenhum feeling na parada, como pode sugerir erroneamente a primeira faixa do disco “Liquid Tension Experiment”.
Não pense ainda que eles investem muito nos clichês do rock progressivo, com músicas que ocupam discos inteiro de tão longas. Por trás desse nome estranho, há um conjunto muito bem equilibrado, canções de pura emoção como “State Of Grace”, e também espaço para rebuscamento e exibicionismo, como na já citada abertura de “Paradigm Shift”. Há também um lugar para longas suítes como nos mostra a incrível “Three Minute Warning”, dividida em cinco partes e que encerra o primeiro disco (é irônico que uma canção cujo o título sugira três minutos, dure os quase trinta minutos que dura). 
Saindo então do primeiro álbum da banda, e passando para o segundo, “Liquid
Capa gente-fina, não?
Tension Experiment 2”, somos surpreendidos por “Acid Rain” e seus instrumentos que se combinam fantasticamente, até com uma certa violência bem metal. Essa agressividade tem também seu antídoto: a introdução de piano em “Biaxident”, uma outra faixa que alterna o ouvinte entre céu e inferno. Mais tarde, nos deparamos com uma canção que é regida por uma forte linha de baixo, e depois vai crescendo com a introdução de teclados e sintetizadores. Essa se chama “914”.
Saindo dessa, vamos, literalmente, para outra dimensão. Trata-se de uma canção que flerta com gêneros latinos. Seu título, “Another Dimension”, cai como uma luva no conteúdo da faixa. Em seguida, nos deparamos com uma peça de certo valor sentimental, e que gradualmente, se transforma numa espécie jam session, abrindo caminho também para as últimas faixas do CD. É a “When The Water Breaks”. Seu título é assim graças ao quebramento da bolsa da esposa grávida do guitarrista John Petrucci.
Dado o recado, aqui encerro minha postagem, pedindo desculpas pela pressa com que ela foi concluída. Não responderei aos comentários tão cedo, já que estarei em viagem hoje e amanhã. Mas elogios e críticas (bem-feitas e fundamentadas) serão sempre bem-vindos. Sintam-se todos abraçados por mim :)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Elektra “Assassina”

Deixe-me ver se adivinho: você acha que quadrinhos não passam de uma bobagem, e que super-heróis são uma infantilidade sem limites. E você preferia estar lendo algo sobre algum álbum de rock progressivo, ou nem mesmo queria estar nesse blog. Tudo bem, eu te entendo, muitas vezes o que fazem com esta arte (a arte sequencial) é um insulto à inteligência do leitor. E é pra isso que existem pessoas como Frank Miller e Bill Sienkiewicz, o roteirista e desenhista, respectivamente de Elektra: Assasina.

Como já até resenhei uma história do Capitão América, onde aquele estereótipo de super herói incrivelmente justo e bondoso é reforçado, sei que muitas vezes isso é irritante e não condiz com a sociedade em que vivemos hoje. Frank Miller é ciente disso, e faz de seus personagens os mais humanos possíveis, e em posição de verdadeiro poder, como seres com poderes além do comum, sujos e corruptíveis, com várias facetas e personalidade palpável. A história segue linhas simples, o futuro presidente dos Estados Unidos está possuído por um ser maligno chamado A Besta, que comanda a facção terrorista Tentáculo. Elektra toma conhecimento e se alia a um agente da S.H.I.E.L.D para impedir que o candidato não chegue a presidência. Enquanto a história se desenrola, Miller vai criticando as instituições americanas, os políticos moralistas, o progresso científico, a corrupção, controle social, sociedades secretas, positivismo, mensagens subliminares e, muito, muito mais. Você esperava encontrar esses temas dentro de um mero "gibi"?

Sienkiewicz, o desenhista, não faz por menos e esbanja um traço diferente, explosivo, detalhado, e principalmente, surreal. Se eu tivesse que descrever "Elektra" em uma palavra seria esta, surreal. As imagens são um verdadeiro adendo as palavras de Frank Miller. Por exemplo, Garrett, um agente da S.H.I.E.L.D é um machista que vive fumando e resolve tudo no jeito mais masculino possível. Para isso Bill teve a brilhante ideia de desenhá-lo como uma caricatura, com ombros enormes e um rosto exageradamente masculino. Sem falar que ele só usar armas de formato fálico. Outra artimanha de Bill, é desenhar o candidato a presidente Ken Wind com apenas duas faces, uma séria, para demonstrar responsabilidade, e outra sorridente, para demonstrar jovialidade. Pense por si só quem Frank Miller quis satirizar com esse personagem.

Precisa de mais? Diálogos intrincados, personagens uns profundos, outros caricatos, enredo complexo... Vou admitir que para ler esta obra, é necessária uma preparação. Sua narrativa visual é complicada, os balões muitas vezes estão embaralhados, e as ilustrações são muito surrealistas, a ponto de você ficar alguns minutos olhando para desvendar o que está sendo dito ali. Mas tudo isso, meu amigo, não são desleixos dos autores, e sim recursos para enriquecer ainda mais essa complexa obra-prima da arte sequencial. Espero que, se um dia você a leia, rompa os preconceitos com esta forma de arte que, como diz Frank Miller nas entrevistas inclusas, demorou a acontecer. Surreal.
Obs.: se você não curte humor negro, passe longe!

sábado, 9 de outubro de 2010

Um dia para ouvir The Doors

Saudações. Notaram o novo visual? Para estreá-lo, resolvi mandar um post novo, que estive planejando sexta-feira (ontem), quando faltei aula, e iniciei uma árdua missão: ouvir todos os seis discos do The Doors com Jim Morrison sem parar em ordem cronológica. Portanto, tente tirar os olhos dos porquinhos ao lado e viaje comigo.
Iniciamos com gás. Vigor, criatividade, explosão. Isso tudo Jim Morrison exprime com muita sensualidade em "Break On Through", uma das canções clássicas da banda. Talvez seja já um resumo do que você encontra ouvindo Doors, como Manzarek uma vez disse:  

"Música Bauhaus. É limpa, é pura. De um lado há o piano, do outro uma guitarra, a bateria no meio, um tom de baixo no fundo e o vocalista à frente e tu consegues ouvir as letras. Essa é uma das razões porque o som dos The Doors continua ser importante hoje em dia. É claramente moderno. E era isso o que pretendíamos."

E então partimos para mais baladas e hits de sucesso empolgantes, como Alabama Song, Light My Fire (atenção para os solos de órgão e teclado) e Backdoor Man. Manzarek está completamente correto em sua frase acima. The Doors é muito a frente de sua época. Completamente avant-garde. Pra fechar com chave de ouro, um habituê dos fãs d'as Portas, The End. Dramática, longa, rastejante... Jim Morrison mostra toda sua genialidade como letrista nessa, e como vocalista também.
Termina The Doors, inicia-se algo mais obscuro, talvez com pitadas de ficção cientifíca? Strange Days repete o feito do seu antecessor, só que agora um pouco mais melancólico, com faixas como Strange Days, You're Lost Little Girl, Moonlight Drive, People Are Strange, mas sem perder claro, com a efervescência de uma banda à flor da pele, jovialidade sem precedentes. Porém, acho que o único porém deste álbum é sua faixa final. Novamente há algo longo, dramático, sombrio, mas pra mim não passa de uma sombra torta de The End.
Estava tão bom, tão espontâneo, tão psicodelíco, e começa Waiting for the Sun. Desculpem-me Jim e seus parceiros, mas Waiting for the Sun é desnecessário, assim como seu sucessor, The Soft Parade. The Doors se torna uma banda de hits de sucesso, um Jim Morrison dosado para parecer não-dosado, exageros agora mascarados como exageros. Longas passagens instrumentais? Raro. Poesias intrincadas e rebuscadas, porém modernas? Nada disso, apenas a mesmice da objetividade. "Hello, I Love You, won't you tell me your name". Não, obrigado. 
Minha jornada fica enfadonha. Até mesmo o estilo lindo e penetrante de "Mr. Mojo Risin" cantar fica agoniante. Mas olha, pra deixar claro, esses dois álbuns são bons. Não os despense. Aliás, não despense The Doors. Mas da feita que você absover tudo aquilo que os dois primeiros álbuns passam, suas poesias, ao ouvir os outros dois posteriores, um sentimento de esgotamento criativo na banda fica claro. Mas graças à Deus (haha), tudo é resolvido com Morrison Hotel.
Hard rock maduro, porrada seca no coração. Roadhouse Blues começa com tudo, e você joga as mãos pro alto e grita um "Aleluia!". E só há de melhorar, pra quem curte algo um pouco mais pesado, o hotel de Morrison é um prato cheio. Se você não estiver com cabeça pra levar porrada sonora, esse hotel se torna um pesadelo com dor-de-cabeça. Eu por exemplo, já estava quase expurgando e esmilinguindo.
Finalmente, o último! L.A Woman. Ah, finalmente, parece que os caras voltaram aos trilhos e fizeram algo paralelo aos seus primeiros (e melhores) trabalhos. Quer saber? O álbum inteiro é ótimo, mas estaria a sombra dos outros não fosse o maior clássico da banda estar incluso nele. Sim, Riders on the Storm. Precisa falar mais alguma coisa? A magnum opus de Morrison, Manzarek, Krieger e Densmore. Sensual, selvagem, melancólica, sombria, linda, impactante, penetrante, tudo isso e um pouco mais. Esperar cerca de cinco horas pra ouvir essa música vale a pena.
Pra finalizar esta superresenha, ousada e reverente, deixo vocês com William Blake:

"If the doors of perception were cleansed, every thing would appear to man as it is: infinite"

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Capitão América “A Escolha”


Não é de hoje (ou é sim, se você considerar hoje como a última década) que colecionar histórias em quadrinhos é um passatempo caro. Um encadernado em capa dura, por exemplo, é no mínimo cinquenta reais. Porém, qual é a minha surpresa ao ver este Capitão América: A Escolha por R$ 22,90, capa dura e cerca de cento e cinquenta páginas na Saraiva. Legal! Ainda vêm com um pôster super gente boa. Só podia haver um porém, da história e/ou os desenhos serem ruins.

Do mesmo roteirista do romance First Blood, que depois se tornou o filme do Rambo, David Morrell, não duvide que A Escolha é uma grande propaganda dos EUA. Aliás, como qualquer outra história do bandeiroso. Também não duvide que haverá viagens, muitas viagens. Como por exemplo, Steve Rogers (o Capitão América) se comunicando telepaticamente com pessoas dos Estados Unidos para lhes repassar o espírito do sonho americano. Ou, um soldado matar uma galera, sozinho. Acontece.

Em linhas gerais o comic conta a história hipotética de um Capitão América a beira da morte, sofrendo os efeitos colaterais do soro do super soldado, que ironicamente, foi o soro que lhe deu seus poderes. Em seu leito de morte, o patriota mais amado (e odiado) do universo Marvel ensina lições de coragem, honra, lealdade e sacrifício. E essas quatro palavras se repetem por toda a obra. Cansativo? Que nada. E ainda, com seus desenhos competentes, Mitch Breitwiser vai melhorando a cada página, enfrentando o mal que assola ilustradores de publicações mensais: o cansaço.

Pois bem, se você está disposto a ter uma lição de moral vinda diretamente do grande Capitão América, descongelado na década de 60 por Tony Stark, e não se importa em ser atacado diretamente pelos EUA e o sonho americano, vá em frente e se divirta com uma das melhores obras da arte sequencial lançada esse ano. Mas preste atenção, porque isso não é grande coisa.

Panini Books R$ 22,90 Captain America: The Chosen

sábado, 2 de outubro de 2010

The Beatles "Abbey Road"


A capa é uma das imagens mais famosas da história!
O que seria o melhor álbum de uma banda de peso como The Beatles? Como analisa acertadamente o crítico musical Joel McIver, muitas pessoas apontariam o psicodélico e tecnicolor “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, outras apontariam o limpo e criativo “Álbum Branco”, e algumas outras ficariam com o sombrio e pré-psicodélico “Revolver”. No meio de tantos discos bons, fica camuflado um que, certamente, merecia mais destaque: “Abbey Road”. Apesar desse esconde-esconde, a capa do disco ainda consegue ser uma das imagens mais famosas do mundo, como aponta o site http://www.worldsfamousphotos.com/
Deixando de lado a preferência dos fãs quanto ao álbum, tentarei dizer a você, leitor, o que faz desse uma obra-prima que merece verdadeiro destaque. “Abbey Road” é um disco recheado de reviravoltas e extremos, deixando bem clara a crescente diferença entre os quatro beatles – artísticas, religiosas, filosóficas, e assim por diante. O versátil álbum, de dezessete canções, deixa à mostra o estilo de todos eles. Até mesmo de Ringo Starr, o menos ousado (e talvez criativo). Possui a mais entusiasmada canção do grupo – “Here Comes The Sun” – e a mais melancólica – “Because”. A mais curta – “Her Majesty” – e a longínqua “I Want You (She’s So Heavy)”. Que por sinal, também é a mais longa canção do grupo para quem ignora a avant-guarde “Revolution 9”.
Além das já citadas canções, daria destaque para a viagem ácida de “Come Together”. Depois dessa, o ouvinte depara-se com, arrisco-me dizer, a mais linda balada de todos os tempos: “Something”. A canção de Harrison dedicada
Convidado da gravação batendo o martelo de Maxwell.
à esposa Pattie Boyd não deixa nada a desejar para as da dupla Lennon/McCartney. Pelo contrário, além de ter sido o carro-chefe da divulgação do álbum, se tornou a segunda música mais regravada do grupo (perdendo apenas para “Yesterday”, que, atualmente, é também a canção mais regravada em todo o mundo). O incrível vocal de Harrison e sua surpreendente guitarra fazem jus aos que apostam no caçula como o mais virtuoso beatle.
Tem também “I Want You (She’s So Heavy)”, uma das maiores loucuras já produzidas pelo quarteto fabuloso. Mistura sons de sintetizadores, metais e teclados doidos, riffs trágicos e ruídos brancos. Porém, o que há de mais virtuoso na música, me arrisco de novo, é o ágil e genial baixo de Paul McCartney. A canção é interrompida bruscamente, encerrando o lado “A” do vinil. Há quem diga que o rolo de fita tenha acabado nessa hora, embora Lennon afirme que foi proposital. Uma curiosidade é que a peça é formada por apenas quatro frases, sendo estas incessantemente repetidas. O resto é apenas de instrumentação.
Como já dito, “Here Comes The Sun” é mais entusiasmada canção conhecida
Banda indo bater a foto do álbum.
do quarteto. A excelente combinação das guitarras de Harrison com sons indianos e sintetizadores, faz dessa canção uma obra à parte. No conceito, é o extremo oposto da sua subseqüente, “Because”. Numa descontraída metáfora, o ouvinte do álbum chega num ponto máximo de felicidade com a Harrisong, e é jogado em um abismo ao iniciar a melancólica canção de Lennon. Deve se dar ênfase ao fato de que “Because” é uma canção do maluco Lennon, e não do emotivo McCartney, como apostaria a maioria. Os três, Lennon, McCartney e Harrison, a cantam em coral. Na gravação final, o coral foi sobreposto para dar o efeito de nove vozes.
Dado o merecido (ou não merecido, vista a quantidade de músicas boas num só disco) destaque para as canções, concluo expondo uma dúvida que me deixa doido de vez em quando: Esse é mesmo o melhor álbum dos Beatles? Não será o “Sgt. Pepper’s...” ou o “Revolver”? A resposta é que, esses caras eram de uma criatividade tão extraordinária, que podemos nos dar ao luxo de escolher o que é melhor pra cada momento. Tô filosofando? Vou ouvir o “Revolver”. Tô apaixonado? A melhor pedida é o “Rubber Soul”. Quero viajar na maionese? Vou ouvir o “Sgt. Pepper’s...”. Tô em conflito existencial? Vou tacar o “Abbey Road” aqui na vitrola.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Yes “Close to the Edge”


Definitivamente um dos maiores clássicos do rock progressivo, é este incrível álbum de (originalmente) três músicas "Close to the Edge". E também bastante representativo do quanto o progressivo pode ser exagerado e harmônico ao mesmo tempo.

Abrindo com uma longa faixa de quase 20 minutos homônima que ocupa um lado inteiro do vinil, o virtuosismo chega dando as caras de forma branda e a porrada seca invade seus ouvidos. Steve Howe viaja na sua guitarra, sempre muito criativa até que há uma pausa e se ouve um "ah!", um coro leve na voz de Jon Anderson, e então voltamos a loucura de Howe, que vai logo tomando forma e se torna algo calmo e ritmado, até entrar os vocais e está instaurada a aura prog até o talo. Se você não curte o estilo, e antipatiza com seus exageros, esqueça Close to the Edge. E a primeira faixa já mostra isso logo de cara, sendo que o ouvinte desacostumado desiste logo no início. Olha, sinceramente, não entendo como algumas pessoas reclamam do virtuosismo do Yes. Creio que este é o mérito da banda, fazer um som com técnica apuradíssima e mesmo assim não haver a perda de feeling. Pelo menos neste álbum.

Tudo bem, vamos andar um pouco adiante com esta Close to the Edge, e lá pelos oito minutos a coisa muda de novo, e ouvimos um baixo super trabalhado, créditos de Chris Squire, um dos deuses do instrumento no mundo do rock'n'roll. Então saímos do segundo ato "Total Mass Retain" para ir ao terceiro, "I Get Up I Get Down", com órgãos de outro deus do seu instrumento, Rick Wakeman, bem calmos enquanto os vocais cantam algo bem tranquilo também. Certeza de viagens psicotrópicas pelo espaço sideral. É incrível como tudo é milimetricamente calculado nas músicas do Yes. Além de todos seus instrumentos serem tocados ao extremo, sua harmonia vocal é perfeita, virtuosa ao extremo.

O que podemos falar mais? Close to the Edge é daquelas músicas que levam o conceito progressivo até o fim. E então temos as outras duas faixas que fecham o álbum, "And You And I" e "Siberian Kathru". Essas vou deixar pra vocês concluírem (isso se ouvirem tal obra-prima), mas podem ter certeza de que Squire, Howe, White, Anderson e Wakeman vão fazer o máximo para mostrar o que é rock de verdade, e que rock precisa de cuidados especiais, rock precisa de responsabilidade. Agora se Close to the Edge é responsável ou irresponsável e exagerado, é a você quem cabe descobrir.

George Orwell “Revolução dos Bichos”


Continuando um novo segmento iniciado pelo Lucas em "1001 Discos Para Ver Antes de Morrer", resenho aqui Revolução dos Bichos, um ótimo e curto livro de George Orwell, mesmo autor de 1984. A história se trata de uma granja controlada por um homem tirano chamado de Jones, que trata seus animais com punições pesadas e opressão. Certo dia, um porco chamado Major chama todos os animais para contar-lhes um sonho, nesse sonho, não morariam humanos na granja, que seria controlada pelos animais. Assim surge a Revolução, em que os animais botam Sr. Jones pra fora e instauram um sistema denominado Animalismo, em que cada animal se trataria como igual e não haveria líderes para mandá-los fazer coisas nem tomar-lhes o que produzem. Se fores esperto, caríssimo leitor, é possível observar aí uma linha paralela ao famigerado Socialismo, aquele mesmo, do Che Guevara.

Orwell quer, com isso, fazer uma crítica não ao socialismo, mas sim à traição do movimento socialista na União Soviética, mais precisamente da Revolução de 1917. Apesar de após a Revolução (dessa vez abordo a do livro) o Animalismo ter funcionado perfeitamente, e a vida dos bichos ter virado um mar de rosas, não é o que se procede assim que a história se desenrola e os porcos, líderes intelectuais da granja, se tornam líderes usurpadores dos ideais do povo, enganando-os e traindo todos os mandamentos da Granja dos Bichos. Revolução dos Bichos mostra alarmantemente como a vida das pessoas comuns, os "animais inferiores", é facilmente manipulável pela sua ignorância e apatia quanto a quem realmente tem poder de escolha na sua sociedade: os porcos. Talvez acertadamente, Orwell escolheu para representar a elite dirigente os suínos. Quem melhor parar mostrar seres sujos, gordos e com mente liberal? 


A obra se torna extremamente deliciosa quando é possível entender quem cada animal representa. Por exemplo, Napoleão, o porco que lidera a Granja, exila Bola-de-Neve (o verdadeiro Animalista, que queria o bem de todos os animais), e depois constrói com a ajuda dos bichos (que já esqueceram Bola-de-Neve e o acha um inimigo), o Moinho Napoleão. Se você anda estudando geografia apropriadamente, palavras pipocam na sua cabeça: Stálin, Trótski e Stalingrado. Legal, não? É por essas e outras que Revolução dos Bichos, além de ser de leitura fácil e divertida, é de grande adendo cultural para quem quer entender mais sobre o assunto, e talvez, desperte o interesse no leitor, de tomar conhecimento de um dos mais importantes movimentos na história. Viva Napoleão! Ou não.